quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Os cabeçudos atacam de novo - 2Cabeças, a cerveja sem marca... até quando?
Black IPA? Dark Cascadian Ale? India Black Ale? Não importa. Foi batizada de Hi5, saudação característica nos EUA, inspirada por um detalhe pitoresco na produção - uma luva cirúrgica usada para tapar o fermentador inflou com os gases liberados pela fermentação e parecia pedir um cumprimento.
A Hi5 conquistou narizes e bocas do público e dos principais especialistas do país. Em seguida, veio a MaracujIPA. Reparando que os lúpulos presentes nas IPAs dos EUA muitas vezes traziam um aroma forte de maracujá, decidiram adicionar a própria fruta, num "dry fruiting" sobre uma base de IPA. Novamente, a cerveja foi (merecidamente) muito bem recebida. O mesmo ocorreu com a Saison a Trois, mais recente.
Nos últimos meses, os sócios da 2Cabeças, Bernardo Couto e Salo Maldonado ganharam a adesão de mais uma cervejeira cabeçuda, Maíra Kimura, que fez um relato apaixonado e realista de suas experiências na Inglaterra - exclusivo pro nosso blog.
Por sugestão do designer cabeçudo Bruno Couto (autor do blog Eu bebo sim e responsável pela comunicação visual da cervejaria), eles decidiram "trocar a marca por mais lúpulo". Adotaram um "X" estilizado que, segundo Bernardo, representa "a ausência, como buscar uma imagem no google e aparecer que a imagem não pode ser carregada". Golpe de marketing? Claro, mas com estilo.
As novas garrafas da 2 Cabeças, sem marca no rótulo. Foto: Divulgação |
Assim, a 2Cabeças trocou o nome da Hi5 para X-BlackIPA e da MaracujIPA para X-IPA com Maracujá. A cervejaria lançou ainda, no Mondial de La Biére, duas novas criações: a X-Imperial lager, em colaboração com a Penedon, do cervejeiro Sérgio Buzzi, e a X-Session IPA. Novamente, duas receitas certeiras, mesmo para quem não é lupulomaníaco como este escriba. A X-Imperial Lager (também descrita como Imperial Pilsner) podia trazer mais lúpulos florais, mas seu aroma de grapefruit, manga e um pouco de maracujá é bem agradável.
Até quando isso vai durar, não se sabe... Para tentar entender um pouco do que se passa nas cabeças dos cervejeiros cabeçudos, preparamos, como de costume, "algumas" perguntinhas sobre isso tudo e disparamos o petardo para o Bernardo Couto. As respostas vocês conferem abaixo:
BERNARDO COUTO // Cervejeiro da 2 Cabeças
O que motivou a mudança? Quantas MaracujIPAs - digo, X-IPA com Maracujá - vocês beberam antes de chegar a essa ideia?
Boa pergunta, eu devia estar bebendo uma Maracujipa para responder... A mudança tem vários motivos, mas existia um senso coletivo, tanto nosso quanto do Bruno, de que a nossa identidade visual poderia ser melhor. E é isso que estamos buscando. Repare que estamos sem marca, ou seja, esse logo não nos representa! Também foi uma forma de nos mostrar em um caminho diferente, não só do meio cervejeiro, mas do mercado em geral. Há um apego muito grande a marcas, fórmulas "de sucesso" e isso não nos interessa. Enquanto as grandes empresas buscam associar pessoas de sucesso ou marcas consagradas às suas, perpetuar suas marcas, nós resolvemos apagar a nossa.
Já que existem muitas possibilidades no ar, existe a possibilidade de também abandonarem o nome 2Cabeças, já que agora são quatro - contando com a Maíra Kimura e o Bruno Couto?
O nome 2cabeças nunca foi, na nossa cabeça, associado a mim a ao Salo. Claro, as pessoas entendem isso e é natural. Mas o dois representa o coletivo, duas cabeças pensa melhor do que uma. O sim e o não. O zero e um. Hoje o mundo é binário. A Maíra tem uma importância muito grande no crescimento da 2cabeças, mas o nome permanece o mesmo com dois, três ou quarto sócios. Mesmo no início existiu a possibilidade de ter mais uma pessoa e o nome seria 2cabeças do mesmo jeito.
A opção por ser uma cervejaria "cigana" remete à Mikkeler. Que semelhanças e diferenças vocês veem no que vocês vêm fazendo em relação ao que os dinamarqueses fazem?
Acho que eles são a maior inspiração neste modelo de negócio no mundo. A nossa grande vantagem é a liberdade para criar. Mas a gente não tem nenhuma inspiração neles em termos de marca ou receitas. Nós fazemos o que nós gostamos de beber, e imagino que ele também, e esse é o nosso norte. Acreditamos que fazendo produtos para a gente estamos fazendo para várias pessoas que pensam como a gente. Em termos de modelo de negócio, me inspiro muito mais na Brooklyn, que começou terceirizada e permaneceu assim por muito tempo até ter fábrica própria. Não que estejamos em busca da fábrica própria neste momento...
Que vantagens e desvantagens vocês estão vendo no modelo 'cigano'? Com a Penedon, vocês estão na sexta cervejaria (as outras foram Allegra, Magnus, Cidade Imperial, Mistura Clássica e Invicta). Existem outras em negociação para o futuro próximo? Como vocês avaliam a receptividade das cervejarias a este modelo?
A gente não liga muito para esse currículo, ainda mais por conta de algumas experiências ruins que tivemos com algumas destas. Ainda há uma barreira a este tipo de cerveja por que quem tem a indústria ainda vê um pouco de concorrência, ou então se sente incomodado de não estar saindo uma cerveja de lá com receita do mestre-cervejeiro. Mas, cada vez mais, as cervejarias estão se abrindo à terceiros e acabamos puxando essa fila em várias delas. Para nós, está funcionando e pretendemos permanecer assim.
A devoção ao lúpulo não entra um pouco em contradição com a ideia da variedade da cultura cervejeira, de mais de 100 estilos de todos os sabores? Cerveja só presta mesmo se for amarga?
Cerveja só presta se for boa de beber! Das quatro saisons produzidas no Brasil, duas foram receitas nossas. Não acreditamos apenas no lúpulo, mas vemos ele com um grande tempero que muda a perspectiva do que as pessoas entendem como cerveja. Sim, nós adoramos lúpulos, fazemos muitas cervejas com muito lúpulo. Mas, ao mesmo tempo, em vez de dry hopping escolhemos usar maracujá em uma American IPA. Buscamos o equilíbrio, a inovação, mas, sobretudo, o prazer de beber!
Sobre a cultura cervejeira, acho que isso é plural. Não somos nós que temos que abrir todos os horizontes. Nós temos nosso caminho e outras cervejarias tem os deles. Na coletividade, se tem a diversidade de estilos. Acho que vale um adendo, nós somos lupulomaníacos que nunca lançaram uma American IPA tradicional, ou uma Imperial IPA. Há muito o que explorar, para todos os lados.
A Saison a Trois (ótima, por sinal) é a única cerveja de vocês até agora que não é uma bomba de lúpulo. Podemos esperar outras?
Claro! Nós trocamos a marca por mais lúpulo, mas depois vamos ter que devolver esse lúpulo todo e pegar de volta uma marca, né? Temos a trilogia IPA completada com a Session. Agora podemos brincar de outra coisa.
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