segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Pesquisa da Unesp de 2006 já apontava altos índices de milho na cerveja
“Foram analisadas 161 amostras de cervejas provenientes de dezessete estados do Brasil. Concluiu-se que 95,6% utilizaram malte e adjunto cervejeiro (derivados de milho ou açúcar de cana: 91,3% e derivados de arroz: 4,3%) em sua formulação e outros 4,3% eram cervejas 'puro malte'. Das amostras analisadas, 3,7% eram cervejas com menos de 50% de malte em sua formulação (adulteradas), 28,6% delas estavam na faixa de incerteza, para qualquer tipo de adjunto e 67,7% apresentaram malte dentro do limite legal estabelecido.” (SLEIMAN, 2006)Vale acrescentar que foram 60 diferentes marcas, procedentes de 63 fábricas, localizadas em 56 cidades do país. Os parâmetros físico-químicos das cervejas foram avaliados no Laboratório de Bebidas do Departamento de Gestão e Tecnologia da Faculdade de Ciências Agronômicas, e as análises da composição isotópica das bebidas, no Centro de Isótopos Estáveis Ambientais em Ciências da Vida do Instituto de Biociências. “Faixa de incerteza”, destaque-se, é o eufemismo técnico para "há risco de o consumidor estar comprando gato por lebre". Sabendo disso, vamos ler de novo, então, de outra maneira: A análise mostrou que só pouco mais de DOIS TERÇOS das cervejas analisadas, ou seja, 108 das 161, possuíam COM CERTEZA percentual de malte até o permitido pela lei. Sobre as 53 restantes... sabe-se lá, não é mesmo? Mas os 28,6% não podem ser considerados adulterados além da famosa “dúvida razoável” dos tribunais. Os autores dizem que elas se encontram “no limite da legalidade”. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA APOIOU COLETA O Ministério da Agricultura, diferentemente do que a Schincariol deu a entender, em sua declaração à Folha, conhece a metodologia há oito anos e não só a aprova como, ao saber da pesquisa da Unesp, ajudou-a na coleta das amostras em quase todos os 19 estados produtores de cerveja à época. Exigiu, porém, sigilo em relação às marcas. Portanto, infelizmente, não é possível determinar se são as mesmas marcas identificadas pela USP. Fica para a imaginação de cada um. A conclusão do estudo, pode-se dizer, foi branda e racional, como convém aos cientistas:
“A fraude não é uma prática disseminada no mercado cervejeiro brasileiro que (sic) apresenta apenas problemas pontuais.” (idem)À indústria, sempre resta o jus sperneandis (o "direito de espernear", como se diz em juridiquês bem-humorado), alegar que os estudos são falhos, que não é por aí, etc. A verificação dos isótopos é bastante consagrada, cientificamente, em diversos tipos de análise de bebidas. Se tudo o mais falhar , há ainda o mantra de que o uso de adjuntos é normal, suavizante, paladar do brasileiro, calor tropical, blábláblá. A questão, no entanto, não é se a cerveja fica pior ou melhor com mais ou menos milho ou arroz. Está na informação devida ao público. Se a utilização de milho e outros adjuntos não impacta negativamente na qualidade do produto, como afirmam, porque não torná-la clara nas embalagens, nos rótulos? Os consumidores devem se contentar com a descrição de "Cereais não maltados" (quando aparece)?
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