quarta-feira, 28 de novembro de 2012
A celebração carioca da cerveja belga - O que rolou no 3° Belgian Beer Festival
A viagem foi longa, a volta uma aventura e o evento uma loucura, mas retornamos incólumes da Barra da Tijuca, onde fomos investigar o que estava rolando do 3° Belgian Beer Festival. Trabalho muito árduo, como vocês podem imaginar.
O festival, que no ano passado foi realizado no Clube Marimbás, de cara para as águas de Copacabana, desta vez ocupou a Casa do Canal, um lugar bem interessante às margens do canal da Barra, com vista agradável, mesmo sendo no meio da areá urbana.
Chegamos lá bem atrasados, por volta das 16h (o evento começou às 13h) e já no salão de entrada onde estavam as comidas, era possível ver que a festa rolava solta. Por uma janela, via a galera sedenta, alguns até já com os olhos meio injetados, esticando os braços à espera de um copos das diversas nas torneiras.
As comidas, por onde passei primeiro (amém), estavam ótimas e algumas foram preparadas tendo as cervejas como ingrediente. O cardápio foi o mesmo do ano passado - o que nos leva a crer que prevaleceu o pensamento do "time que tá ganhando não se mexe". Tinha uma sopa de Hoegaarden e uma carne com maçã cozida na Maredsous 8 que estavam sensacionais. Se eram complexas ou tinham receita secreta, não sei. O cozinheiro foi trazido de São Paulo.
Os clássicos salgadinhos (croquete de queijo) e batata-frita não duravam muito. Cheguei a ver algumas pessoas, sem educação alguma, levando a bandeja INTEIRA para a mesa. O mesmo fizeram com a sobremesa, um chocolate belga que parecia uma mistura de Sufflair com Nutella, bom demais.
De estômago forrado e pronto para guerra, fui até o balcão tentar pegar uma cerveja tirada da torneira. Missão nada fácil. Até os demais foliões ficarem incapacitados estava um pouco complicado conseguir um copinho. Afinal de contas, além da já mencionada Maredsous, havia em jogo outras preciosidades belgas, como Gouden Carolus, Kwak e La Chouffe.
Nove chopeiras de duas torneiras quase todas plugadas com Karmeliet, Kwak, Maredsous (6, 8 e 10), Carolus Classic, Lindemans Fruitesse, Hoegaarden, e alguma que me esqueci, faziam a alegria dos bêbados presente. Duvel era servida em garrafas, que alguns cervejeiros caseiros fizeram a festa no final.
Conversando com o público durante o evento, ouvi que as cervejas servidas em garrafas estavam melhores que as da torneira, o que pode ter de fato acontecido ou pode ter sido só impressão de quem relatou isso. Houve quem reclamasse que a variedade de comida havia diminuído - apesar dos pratos servidos terem sido os mesmos do ano anterior. Ainda assim, nada sério, que provocasse qualquer desânimo ou insatisfação.
A conclusão é que, quando tem bebida liberada e ingresso "caro", o pessoal procura fazer o evento "valer a pena". Seja na Zona Oeste ou na Zona Sul, a maioria sai trocando as pernas. Alguns caem, tropeçam ou se apoiam nos amigos.
Outros saem sóbrios, como eu. Com a sensação do dever cumprido.
sábado, 24 de novembro de 2012
Cerveja boa é cerveja livre - Abaixo a ditadura da Reinheitsgebot
Comecei a conhecer boas cervejas, como acontece com muitos, pelas cervejas alemãs de trigo. Mais especificamente, as bávaras. Na Alemanha, onde "região" quer dizer "sabor (de cerveja) diferente", essa distinção é particularmente importante.
Além das lagers de Munique, etc, as bávaras, grosso modo, são representadas hoje em dia pelas weizenbiers, que têm como principal característica o aroma frutado que lembra banana e cravo – efeito produzido não pela adição destes ingredientes, mas pelas leveduras utilizadas na bebida.
Foi em cervejas brasileiras que vi pela primeira vez menções à Reinheitsgebot, "Lei de Pureza Alemã", ou ainda "Exigência de Pureza". Estampadas nos rótulos com inegável orgulho, que muitas mantém hoje em dia, quando já devíamos ter superado esse estágio. Mas é preciso separar a obediência a esta regra arcaica de qualquer consideração sobre a "qualidade" da cerveja.
Confundir as coisas não é crime, mas distorcê-las talvez devesse ser. Modernamente, a Reinheitsgebot é marketeada a torto e a direito como "tradição", com um ar de superioridade, usada como gancho para cativar os clientes. Virou fetiche. Só que não é por ser tradição que é necessariamente benéfica.
TRADIÇÃO NÃO É QUALIDADE
E se, em vez do lúpulo, o cervejeiro alemão quiser temperar e conservar a cerveja com uma mistura de ervas, o gruit, como se fazia antes de 1516? Não seria ainda mais tradicional, e, portanto, de qualidade ainda maior?
Se você respondeu mentalmente "não", concordamos na realidade básica da coisa. Até porque, convenhamos, mesmo os mais refinados métodos de higiene do século 16 seriam repugnantes hoje em dia.
Se vamos ser tradicionalistas mesmo, adotemos então as lambic como cervejas favoritas, já que usam o método tradicional de sequer selecionar a levedura que vai ser usada para fermentar o mosto. O que cair é presente de Deus.
A família real da Baviera manteve, por séculos, monopólio da produção de cervejas de trigo. Isso não diz nada? Se só as cervejas que seguiam a regra dos três elementos tivessem qualidade, por que a realeza teria predileção pelas "inferiores"? A Reinheitsgebot ganhou nos anos 1990 essa alcunha, "exigência de pureza". Isso, depois de ter sido considerada pela justiça da União Europeia como prejudicial à livre concorrência.
A livre concorrência, me parece, é coisa que mesmo os cervejeiros artesanais, capitalistas por mais que sejam vistos sempre com o manto sagrado da ideologia, deveriam defender. Nem que da boca pra fora.
DOS SEIS ARTIGOS, CINCO SÃO SOBRE OS PREÇOS
O importante é que o decreto do duque Guilherme IV não traz considerações sobre a motivação do ato em seu preâmbulo, muito menos justificativas como a de que se trata de uma medida visando ao benefício do povo. Natural. Onde já se viu, afinal, um monarca ter que se explicar aos súditos?
No texto em si, não há elemento que permita a interpretação positiva que lhe atribuem. Resta a análise fria dos seis "artigos".
Os quatro primeiros se ocupam dos preços máximos que se podia cobrar por cada tipo e quantidade de cerveja. O último volta a falar de preços. E mostra preocupação com escassez da cevada, dando a entender que o governo desapropriaria estoques privados que julgasse necessários.
Nur Geschäfte. Just business. Apenas negócios.
É no penúltimo artigo que os defensores da visão benevolente sobre essa tal "exigência de pureza" se fiam. Curiosamente, o texto não faz referência a esse conceito de pureza nem nada minimamente semelhante. Afirma que "deseja enfatizar" (indicando que isso já devia ter sido alvo de legislação) que os ingredientes "no futuro, em todas as cidades, nos mercados e no país na fabricação de cerveja eram devem ser malte, lúpulo e água".
A levedura, como todo mundo que leu um pouquinho a respeito já está careca de saber, só foi descoberta no século 19, foi adicionada posteriormente ao texto, etc etc... E estabelece ainda que a punição para quem fizer algo diferente é o confisco da mercadoria, "sem falha". Ou seja, não aplicava punição severa a quem transgredisse.
Nada nela ecoa, nem de longe, uma preocupação tão fundamental com os reles plebeus bebedores.
O texto, curiosamente, não menciona qual seria o fim da cerveja feita fora dos padrões apreendida. Pode-se apenas especular.
UMA LUZ NO FUNDO DA CALDEIRA DE MOSTO
Estabelecido que não se trata de qualidade, resta a questão filosófica. A Reinheitsgebot não faz muito mais do que limitar a criatividade dos cervejeiros. De condicioná-los a repetir que o fato de estarem usando os tais ingredientes quase místicos confira "qualidade", "pureza" à cerveja.
As meras combinações entre esses quatro elementos são capazes, sem dúvida, de gerar uma gama enorme de aromas e sabores. E daí? Por que vestir a camisa de força? O cervejeiro deve se sentir culpado se ficar com vontade de adicionar nozes e passas à sua cerveja escura? Deve se autoflagelar?
Felizmente, já estamos vendo no Brasil uma bela "contra-cultura cervejeira", em busca de experimentações e inovações. Isso se manifesta tanto nas artesanais de médio e pequeno porte, com seus lançamentos sendo reconhecidos no exterior, como nos cervejeiros caseiros, com as amostras enviadas aos concursos que têm sido realizados em diversos estados.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Cervejaria Providência planeja começar venda em garrafas até junho de 2013
"Tomar uma providência" pode ter um significado bem mais agradável do que o enunciado sugere, como mostra este pedaço de diálogo do detetive mais famoso do mundo, Sherlock Holmes (como bom inglês, apreciador de um pint de bitter ale), com seu fiel escudeiro, dr. John Watson. Instalado em Cascavel, no Paraná, num terreno à beira da BR-277, rodovia que liga o Porto de Paranaguá a Foz do Iguaçu, um grupo de amigos está firmemente dedicado a conferir esse mesmo sentido (fica a dica da referência literária) à expressão. É o pessoal da cervejaria... Providência, é óbvio."Não ouvi mais nada. Seus carros partiram em direções diferentes e fui tomar minhas providências. "Que providências?" "Um pouco de carne fria e um copo de cerveja", respondeu Holmes, tocando a campainha. CONAN DOYLE, Arthur. "Um escândalo na Boêmia", in As aventuras de Sherlock Holmes.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Festa da cerveja e da culinária belga chega à terceira edição no Rio de Janeiro
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