quarta-feira, 4 de julho de 2012

Petrópolis e Schin prontas pra briga no coração do sertão baiano

O governador Jaques Wagner e o presidente do grupo Petrópolis, Walter Faria (Foto: Carol Garcia/Secom)

Depois de muito tempo vendo outras grandes cervejarias se darem bem com a eterna folia da Bahia, o grupo Petrópolis decidiu fincar pé lá também. O lugar escolhido teve todo jeito de desafio ou, como afirmou o Estadão, de declaração de guerra: Alagoinhas, a mesma cidade onde fica a unidade baiana da rival Schincariol.



No site da cervejaria, uma pena, não se acha palavra sobre o assunto. A primeira notícia da seção dos press-releases, no momento em que consultei, era uma cheirando a mofo do 3o. Simpósio do Instituto Cervecero de Investigación y Enseñanza (VLB), encerrado em 21 de junho. Recorro, portanto, às palavras do diretor da empresa, Douglas Costa, a/ao jornalista da Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado da Bahia:

Após estudo, concluímos que a Bahia é um mercado potencial, um mercado próximo que fará a ligação com a área onde a nossa unidade de Teresópolis atende. E encontramos em Alagoinhas as condições favoráveis em relação a suprimento de água e espaço físico, além de infraestrutura para instalação de uma empresa de grande porte.
Aham. Claro. Como não pensamos nisso antes? Dos 417 municípios baianos, só Alagoinhas poderia receber essa fábrica, por esses motivos inquestionáveis. Ok. Pausa para conter o risinho cético.

No mais, leia-se: mesmo com o caráter simbólico da decisão para o Petrópolis, o governo baiano teve que dar uma requebrada com a malemolência que lhe é peculiar para que a cidade fosse escolhida, afinal, Pernambuco também estava na jogada. Se foi de leve ou até o chão, não se sabe, porque o press-release desta terça-feira só informa os benefícios que a empresa trará, não as concessões feitas.

Jaques Wagner assina o protocolo de intenções com o grupo Petrópolis (Foto: Carol Garcia/Secom)

Ao analisar os principais números, é preciso alguns alertas - os caveat que os economistas tanto curtem.

O investimento previsto é de R$ 1 bilhão. Ok, porém dividido em cinco anos, a média é de R$ 200 milhões ao ano. Serão 3 mil empregos, mas não diretos. A unidade em si só responderá por 1/6 deste total, ou 500 vagas. O resto é expectativa de que as distribuidoras contratem reforços de pessoal.

De impressionante, só existe o dinheiro. Quando plenamente operacional, a perspectiva é que ela produza 600 milhões de litros anuais, que renderão à empresa em torno de R$ 3,7 bilhões.

Por que desafiar a Schincariol? Porque ela é a única que falta para o grupo Petrópolis chegar na ambicionada condição de vice-líder do mercado brasileiro... já que é virtualmente impossível, no cenário de hoje, haver qualquer competição com a Ambev (de quem falaremos outro dia), que fechou 2011 com média de 69% do mercado, segundo pesquisas da consultoria Nielsen citadas pela própria companhia.

Schincariol e Petrópolis disputam cada décimo. Parece pouco? Pois num mercado de 13 bilhões de litros, por ano, cada 0,1% desse mercado representa 13 milhões de litros. Por baixo, a R$ 2 o litro, uns R$ 26 milhões. Nada mal pra um décimo, não é mesmo?

A produção plena da unidade do grupo Petrópolis em Alagoinhas, se esse patamar for alcançado (nem sempre acontece), significará aumento de cerca de 0,45% no total do país. O acréscimo, naturalmente, vai implicar em redistribuição da participação...

Infelizmente, não sou Raul para cantar "Eu sou astrólogo / vocês precisam acreditar em mim" (em Al Capone), mas ... quem viver, verá.

2 comentários:

  1. Muito bom o post! Bem completo... nunca divulgam mesmo as concessões que o governo fez para instalarem estas fábricas, porque se divulgassem a opinião pública cairia matando (com certa razão)...

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  2. Estamos correndo atrás dessa informação, meu caro... se conseguirmos, será publicada, sem dúvida !

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