terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Nova cerveja carioca: Hi5 Black IPA
Nós do 700 cervejas e o Bernardo Couto, editor do Homini Lúpulo, temos algumas coisas em comum. Somos do Rio; adoramos boas cervejas; adoramos escrever a respeito destas cervejas, temos o mesmo respeito pelos principais inovadores do setor e descobrimos que não basta beber a dos outros... a experiência cervejeira só se completa mesmo quando você cria a SUA cerva. Foi o que ele decidiu fazer, com a ajuda do pessoal da cervejaria Allegra (RJ).
Com a cervejaria 2Cabeças, ao lado do sócio, o publicitário Salo Maldonado, Bernardo está lançando seu primeiro rótulo, batizado Hi5. É uma black IPA, ou seja, uma india pale ale escura (vale lembrar que "pale" é pálida). Trata-se, por enquanto, de uma verdadeira ovelha negra do mundo cervejeiro, alvo de questionamentos filosóficos profundos em sites como o Beervana e ainda não reconhecida como um estilo por guias como o BJCP. O que caracteriza a dita-cuja é carregar o amargor tradicional da IPA, mas com maltes torrados que a levam a parecer, na apresentação, com uma stout.
Nesta entrevista, Bernardo conta um pouco da sua experiência cervejeira.
O Homini Lupulo começou para falar sobre a produção de cerveja caseira, da sua experiencia nas panelas. O que você fazia antes disso?
Como hobbies, tocava violão e me interessava mais pela cozinha. Profissionalmente, atuava na área de produção de vídeo, atividade que ainda é a minha principal, sou jornalista. O blog, que hoje é um site, surgiu como forma de trocarmos experiências com outros cervejeiro caseiros, sem tantas pretensões.
Quando e como começou a se interessar por cervejas artesanais e especiais?
Houve vários momentos em que tive contato com variados estilos, mas a mudança radical foi mesmo fazer a minha cerveja. Fiz uma pale ale sem sequer ter tomado uma deste estilo ainda. Ali, comecei a querer conhecer os estilos, provar cervejas diferentes e comecei a me envolver mais a fundo. Isso há cerca de dois anos e meio. Antes, conhecia estilos mais básicos apenas, como pilsen, stout e weizen. A cultura cervejeira é muito extensa.
Você foi aluno do Leonardo Botto. Quando foi isso e como veio a ideia de se aprofundar na maneira de fazer cerveja?
O curso foi em julho de 2009. Estava conversando com minha cunhada e ela contou sobre um amigo que estava fazendo cerveja em casa nos EUA e tendo bons resultados. Nunca tinha ouvido falar em Leonardo Botto, nem em Confraria do Marquês. Não conhecia ninguém que fizesse cerveja em casa. Mas nos interessamos, e coincidiu de poucas semanas depois ter um curso marcado. Logo fiz minha reserva (ela acabou não fazendo, pois não mora no Rio) e embarquei neste caminho sem volta. Uma coisa que também me motivou foi o fato de, na minha infância, meu pai ter produzido algumas levas de cerveja. Aquilo não me pareceu tão distante assim quando decidi começar a fazer, como pode parecer para muitos, e sem muito pensar encarei o desafio.
Logo após o curso você já comprou os equipamentos ou planejou bastante antes de partir para a prática? Conte um pouco como foi esse processo inicial até a primeira produção.
Logo após terminar o curso, parti para adquirir os equipamentos. Junto com mais 3 amigos, compramos e montamos tudo. Cerca de um mês e pouco após o curso já estávamos produzindo. Talvez se tivesse pensado e planejado demais, nunca tivesse feito. Fica aí uma dica: faça, não é difícil! Parece assustador, são diversos equipamentos, processos, dados técnicos, insumos. Mas, na verdade, é tudo bem simples.
A primeira produção foi um caos, o equipamento levou horas para ficar certo, e durante a brassagem houve vazamentos de cerveja pela torneira, água da torneira entrando na cerveja. Mas, no final, saiu uma pale ale razoável, até!
E o que achou do desafio de fazer a sua cerveja?
Achei muito interessante e motivante. Reproduzindo receitas básicas você consegue, logo de cara, produzir cervejas boas. Com estudo, conversa com mais experientes e prática você começa a criar receitas, ousar nos insumos. Aí a brincadeira muda de figura, ficando ainda mais fascinante, pois você, muitas vezes, está criando algo que ninguém que você conhece tentou. É, de fato, um desafio pessoal.
Como você desenvolveu o conceito da cerveja Hi5, e o que achou do resultado final em relação ao planejado?
A cerveja surgiu de uma leva caseira sem qualquer pretensão. Queria testar o lúpulo Simcoe e fazer uma black IPA. Eu e o meu sócio, Salo Maldonado, fizemos a brassagem e o resultado final nos impressionou, assim como a vários amigos. Quando transportamos a receita caseira para a produção em larga escala deu um certo receio dela não ficar da maneira que imaginávamos. Mas chegamos a um resultado muito similar, que quem provou ambas pode constatar. Assim como a versão caseira, a industrial também me impressionou.
O conceito da cerveja, em si, é de inovação. Eu e Salo admiramos cervejarias como BrewDog, Baladin, Dogfish Head, Flying Dog, entre outras. Gostamos de cervejas marcantes, com identidade visual criativa e um posicionamento de mercado bem distando do tradicional e conservador. Ao invés de começarmos com pilsens e weizens, abrimos logo com uma black IPA. E o resultado é impressionante, vejo diversas pessoas bebendo dela a noite inteira. Uma quebra de paradigmas para uma cerveja escura.
E quando veio a decisão de coloca-la no mercado? Alguma cervejaria te convidou para produzi-la, vendeu a receita para alguém ou está sendo um investimento próprio? Onde será produzida e em que quantidades?
Eu fui atrás da cervejaria, mas nem imaginava ainda que seria justamente a Hi-5 Black IPA que seria produzida. Fiz um levantamento de valores e a viabilidade do negócio e levei para o Salo. Perguntei a ele se interessava a ele, pois ele já atua como distribuidor de cervejas. Após fazer uns cálculos, vimos que dava para lançar a cerveja e determinamos começar sem medo: a primeira cerveja seria uma Black IPA! O investimento é próprio, o que nos limita muito por enquanto, mas com isso temos total autonomia para criar e inventar. Pensamos muito parecido e gostamos muito de ousadia e bom humor. Acho que a cerveja reflete isso. Agora, a esperança é que o retorno financeiro venha para que aumentemos a escala e tenhamos novos rótulos.
Junto com a Hi5 veio a Cervejaria 2cabeças. Quais são os planos daqui para frente?
Pois é, a Hi-5 veio antes da 2Cabeças, mas a marca da cervejaria é a 2Cabeças. A Hi-5 é apenas nosso primeiro rótulo e esperamos lançar outros em breve. Pensamos em estilos diferentes, em utilizar ingredientes inusitados. Idéias temos muitas, mas ainda não decidimos qual será o próximo passo exatamente. Esta semana faremos alguns testes, quem sabe a próxima não vem dali? Torcemos para que haja um novo caso de auto-batismo e nos ajude a escolher um nome.
Tem alguma - ou algumas - dica para o pessoal que tá começando ou vai começar (que é o meu caso)?
A dica é não ter medo de fazer. Vejo muita gente que faz curso, que se interessa, que estuda, mas chega na hora e não compra os equipamentos. Não começa. Quando comecei com meus amigos, não tínhamos freezer nem geladeira. Passei mais de 1 ano controlando a temperatura com gelo e garrafas pet congeladas dentro de um isopor onde ficava o balde fermentador. E moro no calor do Rio de Janeiro. Fiz cervejas muitos boas em condições muito ruins.
Do ponto de vista comercial, não ter uma cervejaria nem tampouco um massivo capital para lançar uma cerveja não foi impedimento para colocarmos nosso bloco na rua. Ter vontade, estudar e estar atento ao que acontece no mercado é essencial.
2 comentários:
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ResponderExcluirCaro Bernardo,fico muito feliz de ver a iniciativa de vocês queria parabenizar você, Saulo e Daniel Conde pela matéria, faço cerveja artesanal desde 1986, adoro inovações , e tenho " algumas" como a que inaugurou a "coluna teste drink" CAS COCONNUT BLACK" porter com cocada preta (bem inusitada não )do a volta ao mundo em 700 cervejas, quando precisar compartilhar conhecimentos e idéias conte comigo , mais uma vez parabéns !!!
ResponderExcluirMESTRE " CAS "
CAS CERVEJAS ESPECIAIS
Desde 1986
São Manuel - SP
www.cascervejaartesanal.blogspot.com