sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mondial de la Biére no Rio: preço do estande desanima cervejeiros artesanais do Brasil

Os custos dos estandes da versão carioca do Mondial de la Biére, previsto para novembro, estão desestimulando os cervejeiros artesanais brasileiros, e o festival corre risco de não contar com algumas estrelas do movimento no país. O assunto vem sendo comentado nos bastidores do setor artesanal, enquanto as negociações se desenrolam.

Alguns cervejeiros experientes concordaram em falar a A Volta ao Mundo em 700 Cervejas sob condição de anonimato, a fim de evitar atritos com a organização do evento. Segundo os relatos, duas "grandes micros", representantes ativas do movimento artesanal, já teriam desistido de participar se não houver revisão dos valores.

— Os preços estão surreais. Espero que seja um sucesso, mas isso mostra a pouca união das cervejarias, que pra um evento assim precisam de algo lhes explorando significativamente. E perde força. Poderia ser algo muito mais bacana pra cultura. A atração é o tamanho do evento e sua projeção de público, mas economicamente é inviável — disse um cervejeiro da Região Sudeste.

As ausências podem incluir diversas também cervejarias artesanais paranaenses, segundo um cervejeiro da Região Sul:

— A Procerva(associação de cervejeiros artesanais do Paraná) não deve participar se não revisarem isso. A gente conversou e disse que não rolava desse jeito. Eles disseram que nada podiam fazer, que isso era o padrão. Mas no resto do mundo não tem 60% de imposto, é muito diferente. Me espanta eles não terem essa sensibilidade.


Segundo 700 Cervejas apurou, cada estande no Mondial de la Biére deverá ter no mínimo 9 metros quadrados, a R$ 680 o metro quadrado – o que soma R$ 6.120. O preço fica abaixo dos R$ 8 mil cobrados no Beer Experience por um estande das mesmas proporções, mas bem acima dos R$ 1 mil do Festival Brasileiro de Cerveja, por exemplo.


O que mais incomoda, no entanto, é diferença gritante nos percentuais de participação dos organizadores nas vendas dos estandes. Nos dois eventos brasileiros, foi de 20%, menos de metade dos 50% que cobrarão os canadenses. Segundo uma fonte ligada à organização, na saída do evento, haverá uma "boutique" onde os visitantes poderão comprar as garrafas e kits sem a cobrança do percentual para os expositores.

Além da importância da marca do Mondial, pesa a expectativa de um público que provavelmente será o maior já realizado no país. A aposta dos organizadores é que o festival reúna cerca de 25 mil pessoas em quatro dias, o que, segundo estimativas, é cinco vezes mais do que a edição passada do BeerExperience, e três vezes mais do que o Degusta Beer da Brasil Brau. Mesmo assim, há dúvidas sobre o potencial lucrativo. Além dos custos, os cervejeiros precisam incluir nas contas gastos com passagens, estadia e alimentação durante o festival. E o Rio de Janeiro não é conhecido por suas opções baratas nesse setor.

— Acaba sendo um evento que entra na conta de investimento de marca, pois vai ser deficitário para todos. Mas o Degusta Beer (na Brasil Brau) também foi para praticamente todo mundo. Qual é o valor de mais de 20 mil pessoas se relacionarem com sua marca, conhecerem sua cerveja? — analisa outro cervejeiro do Sudeste.

A alternativa, de acordo com um cervejeiro veterano, seria uma entidade "das cervejarias, das micros principalmente", contratar uma empresa pra organizar seu evento:

— E o que me chateia muito mais é a falta de união das micros, que podiam se unir e obter condições muito melhores não pra este, mas pra outros eventos cervejeiros. Vai ter cervejaria maior barganhando sua participação e obtendo melhores condições, e menores querendo estar presente e próxima pagando mais. Estas distorções que são chatas. Seria muito melhor pra todos, cervejaria e consumidores e toda cadeia da cerveja, menos pra empresa organizadora.

700Cervejas entrou em contato com a Fagga, responsável pelo evento, mas não recebeu resposta. A Procerva também foi contatada e também não se manifestou.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Top 5 - As cervejas brasileiras de 'elite' nos rankings internacionais

Fizemos uma análise do ranking do Untappd, vocês curtiram, e nós decidimos ir além. Além da rede social/aplicativo que é febre entre os bebedores, reunimos os dois maiores rankings internacionais de cervejas: RateBeer e BeerAdvocate.

Cruzando os dados destes três rankings, chegamos a uma "elite" das cervas nacionais. São os cinco rótulos que aparecem entre as 20 brasileiras com as melhores avaliações em todos os fóruns.

OBS: Dados coletados em 11/07/2013

Não à toa, quatro das cinco cervejas pertencem ao que podemos classificar, ainda que paradoxalmente, como "grandes micros": a catarinense Eisenbahn (propriedade da gigante Kirin Brasil), a mineira Wäls e a paulista Colorado. A paranaense Bodebrown, bem menor, completa a lista.

O destaque é a veterana Colorado, de Ribeirão Preto. Além de figurar com duas cervejas entre as "unânimes" nos três rankings, tem, na média, a cerveja mais bem colocada, a Ithaca.

Em seguida, vêm a Wäls Petroleum, que assim como a Ithaca é representante do estilo Russian Imperial Stout. Na sequência Vixnu, Lust e Perigosa.

É importante observar que, por se tratar de rankings internacionais, cervejas que já estão sendo exportadas há bastante tempo levam vantagens, como Eisenbanh e Baden Baden, e provavelmente por isto figuram com vários estilos nestes rankings.

Por serem alimentados diariamente com a opinião dos bebedores, esses rankings possuem uma boa dose de volatilidade. Menos de três dias depois de lançarmos o post sobre as "dez mais" no Untappd, as posições das cervejas no topo mudaram bastante. Por isso, se entrar num desses rankings e estiver tudo diferente, não se assuste. É assim mesmo.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Mondial de La Biére espera receber 25 mil pessoas no Rio de Janeiro, em novembro



O celebrado festival de cerveja Mondial de La Biére vai aportar no Rio de Janeiro em novembro, e espera receber 25 mil visitantes em seus quatro dias. Para trazer o evento ao país, a Fagga | GL Events Exhibitions vai investir R$ 5 milhões. A empresa, subsidiária do grupo francês que administra o Riocentro, maior centro de convenções da América Latina, ainda não tem uma estimativa do faturamento, o que só será possível após pesquisa com os expositores.

Em entrevista ao 700Cervejas, a coordenadora de Comunicação da Fagga, Luciana Monteiro, conta que por pouco a cidade escolhida para sediar o festival surgido no Canadá não foi outra:

— Havia outras capitais e cidades interessadas. Aproximadamente cinco, entre elas Blumenau, Curitiba e Belo Horizonte. A escolha do Rio veio por já haver um interesse especial do carioca por cervejas especiais e da ausência de um evento desta natureza no estado [NOTA DO EDITOR: O Delibeer foi realizado em Niterói este mês e haverá ainda o Beer Experience, em outubro, na capital], fato que favorece o empenho, cuidado e competência em fazer um evento vitorioso na cidade.

Além disso, ela destaca que a decisão foi influenciada pelo "encantamento que a cidade maravilhosa causa nos visitantes, especialmente às pessoas que vem de fora do país".

— É a atmosfera perfeita para um evento de sucesso! — comemora.

Luciana diz que a versão brasileira do evento seguirá o mesmo modelo das edições dos outros países.

— Traremos grandes marcas fornecedoras, cervejarias, áreas de alimentação, além do MBeer Contest, Beer Boutique e Petit Pubs.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Top 10 das cervejas brasileiras no Untappd

A rede social cervejeira Untappd lançou uma ferramenta que permite aos usuários verificar as cervejas com as melhores avaliações, tanto por país quanto por estilo. Inspirados pela postagem no Facebook do amigo Bruno Moreno, cervejeiro caseiro da Serra de Três Pontas, comemorando a aparição da sua Cafuza Imperial IPA como a nota mais alta entre as brasileiras, resolvemos fazer uma análise do Top 10 das cervejas brazucas.

Entre elas, apenas cinco estilos diferentes (sendo que três são variações da clássica India Pale Ale), o que nos mostra uma tendência clara do mercado brasileiro: Imperial Black IPA, Black IPA, American IPA, American Brown Ale e Russian Imperial Stout (RIS). Eis o ranking:


A presença das IPA não nos surpreendeu, mas foi interessante verificar a entrada das RIS. Isto pode apontar uma mudança importante. As IPAs parecem estar chegando - se é que não chegaram - ao seu ápice. Por mais que haja um marketing forte em torno das cervejas extremamente amargas, pelo menos um ligeiro declínio nessa predominância é inevitável (e saudável para o mercado)

Entre as cervejarias, destaque para a gaúcha Seasons, do craque Leonardo Sewald, que está com três cervejas no ranking. A paranaense Bodebrown, dos criativos irmãos Samuel e Paulo Cavalcanti, marca presença com duas cervejas.

Metade das cerveja tiveram menos de 100 avaliações e a outra metade, mais de 100. A Wals Petroleum, que tem o maior número de avaliações (728) entre as brasileiras neste Top 10, figura em quarto lugar. Outra RIS, a Bigfoot (25) da Seasons, aparece em sexto. A diferença entre a primeira colocada e a última, como podemos ver, foi bem pequena, de 0,30.

Para aprofundar a análise (pois é, temos essa mania), resolvemos investigar os estilos que aparecem na listagem. A American IPA é o estilo com maior número de cervejas brasileiras, passando dos 10, enquanto os outros estilos ficaram entre 4 e 5 cervejas. Também o com o maior número de avaliações. A campeã é a Colorado Indica, com quase 1,3 mil.


A categoria Imperial IPA, com poucos representantes, teve diferença de 0,40 pontos.


A Russian Imperial Stout é o estilo com menor discrepância entre notas, variação de apenas 0,18 pontos.


Já na categoria American Brown Ale, a distância entre a melhor e a pior avaliação foi gande: 1,5 ponto


Por fim, juntamos as classificadas como Imperial/Double Black IPA e as Black IPA/Cascadian Dark Ale, quem têm o menor número de avaliações.


Queremos deixar claro que não consideramos, e que não se deve considerar, que a posição de uma cerveja reflita uma superioridade em relação a outra, em termos de qualidade. As notas do Untappd refletem, acima de tudo, as preferências dos bebedores. Como sabemos, cada um tem o seu gosto. Além disso, existe ainda a relação nota/numero de avaliações, que pode causar distorções.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Wäls quer aumentar produção em 30 vezes com nova fábrica, que fica pronta em 2015

José Felipe Carneiro discursa, na assinatura do acordo. Foto: Prefeitura de Araxá

Anunciada no último dia 10 de junho, a nova fábrica da mineiríssima Wäls na cidade histórica de Araxá (MG) deverá ficar pronta no primeiro semestre de 2015, revela o mestre cervejeiro José Felipe Carneiro, em entrevista ao 700 Cervejas. O investimento é estimado, inicialmente, em R$ 20 milhões. Apostando forte na expansão do setor de cervejas, a Wäls pretende produzir na nova unidade, de 22 mil metros quadrados, até 1 milhão de litros por mês – mais de 30 vezes a produção atual, de 30 mil litros por mês. Não existem estatísticas precisas sobre a produção das cervejarias artesanais brasileiras  já que, segundo os próprios órgãos públicos responsáveis pela fiscalização do setor, não há discriminação da forma de produção, se industrial ou artesanal , mas o volume anual de 12 milhões de litros certamente colocará a Wäls como a "maior microcervejaria" do país.

— As obras começam agora no segundo semestre (possivelmente em julho, segundo o Diário de Araxá). Elas devem se prolongar por um ano e meio — explica José Felipe, responsável pela produção de delícias de inspiração tradicionalista como a dubbel, a tripel e a quadrupel, e de produtos mais ousados como as recentes 42 e Saison de Caipira, que têm por base o estilo farmhouse.

O investimento será bancado em parte pelo caixa da empresa, e parte por um financiamento do Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG). José Felipe não detalha os valores, mas, segundo o site da instituição, os financiamentos para capital de giro e expansão dos negócios de micro e pequenas empresas, com faturamento de até R$ 30 milhões por ano, tem limite de R$ 4 milhões. Podem ser usados para "compra de matéria prima, reformas, capital de giro, obras civis, veículos", com taxas de juros a partir de 0,85% ao mês, prazo de carência e até quatro anos para pagar.

Na escolha da cidade, pesaram não só argumentos econômicos, mas também sentimentais:

Os fatores determinantes (para a escolha) foram o alto potencial econômico da cidade, o valor turístico de alta relevância em Minas Gerais, e o fato de nossa família ser de Araxá — diz.

Essa vinda para Araxá, pessoalmente, é um presente muito grande para a minha alma, depois de estar fora por 40 anos e poder retornar com a nossa expertise junto com a cervejaria e para participar da Cidade Gastronômica. Nós tivemos diversos convites de cidades tradicionalmente conhecidas em cervejaria, mas a nossa alma está aqui — disse o pai de José Felipe, Miguel, ao semanário local Clarim.

José Felipe conta que começou a negociar o empreendimento com a prefeitura, administrada pelo médico Jeová Moreira da Costa, conhecido como Dr. Jeová (PDT), em 2012. No mês passado, ele assinou o protocolo de intenções com a prefeitura para inclusão da cervejaria no projeto da Cidade Gastronômica, que até então contava o Clube da Cozinha Araxaense. Dr. Jeová contou ao jornal local que se interessou pela ideia de incluir uma cervejaria durante uma viagem a Campos do Jordão em 2010. Ficou maravilhado em ver a cervejaria local (Baden Baden) como atraía visitantes.

A intenção do prefeito, obviamente, é revitalizar a atividade econômica da cidade e aumentar a presença dos turistas, que trazem... sim, dinheiro, aquecem a economia local, em tempos bicudos como os que vivemos. A cidade, de cerca de 100 mil habitantes, fica no Sudoeste de Minas Gerais, na área do Triângulo Mineiro-Alto Parnaíba. É conhecida pelo artesanato e pelas águas medicinais da estância hidromineral. Sua economia, na parte industrial, é dominada pela produção de fosfatados (fertilizantes) da Vale, e pela mina de nióbio  o metal preferido do saudoso Dr. Enéas  explorada pela Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia (CBMM). Um charme gastronômico não cai nada mal.

Também sem entrar em detalhes, José Felipe diz que a maior escala deverá trazer reflexos positivos para o custo dos produtos aos consumidores.

— A intenção é ter condições melhores de preços para o consumidor final, com a mesma qualidade de sempre.

Quanto a intenções futuras de aceitar sócios ou de vender a cervejaria, é enfaticamente vago:

— A família (Pedras Carneiro) pretende continuar sendo a única proprietária da cervejaria.


ANÁLISE: MOMENTO DECISIVO 
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Todo investimento tem seus riscos. Todo mundo que já comprou algo parcelado sabe o quanto ter prestações a pagar adiciona tensão a um investimento. E R$ 20 milhões não são R$ 20, nem R$ 200. São dez zeros. É zero pra cacete, e por mais que se tenha segurança na qualidade do produto, exige uma dose grande de coragem. Quem não arrisca... não é o que diz o ditado?

Depois de encontrar as primeiras garrafas no Empório Icaraí, em abril de 2011, e me impressionar com o resultado das degustações, passei a acompanhar a trajetória da Wäls  Em agosto, tive a oportunidade de bater papo com o irmão de José Felipe, Tiago, no estande da empresa no Beer Experience, em São Paulo. Chamou a atenção o carinho com que ele falava do processo de produção, e com a atenção aos tempos adequados para cada etapa.

A Wäls tem produtos de qualidade para que tudo dê certo. De toda a sua linha, é difícil pensar em uma que não tenha sido premiada em concursos. Além do "trio parada dura"  dubbel, tripel e quadrupel , a Witte, witbier, se destaca, juntamente com a pilsen e a champenoise Brut. Ao que tudo indica, animada com a ampla aceitação e o reconhecimento de suas criações, a cervejaria partiu para o tudo ou nada. Se tudo der certo, a cervejaria transforma o reconhecimento qualitativo em quantitativo. Pode torná-la algo semelhante ao fenômeno da Devassa, em seu início. Não custa lembrar, é de uma família do ramo de bares e lanchonetes, e possui um bar, o Stadt Jever. Se não de certo, o "pretende" da última frase deixa uma saudável porta aberta...

Para dar o salto com segurança e chegar do outro lado, marketing e a publicidade carecem de atenção. O slogan é marrento, como se diz aqui no Rio, mas como suas cervejas têm angariado prêmios e toneladas de elogios, a autoconfiança é saudável. Tiveram a boa ideia de homenagear a resposta do humorista britânico Douglas Adams para a resposta fundamental da humanidade e criar a 42, mas patinaram na escolha do estilo, saison/farmhouse. A cerveja, que leva uma combinação bastante inusitada de adjuntos (limão e café), ficou excelente. Mas a cervejaria podia ter explorado de fato o rico universo do Guia do Mochileiro das Galáxias  da mesma maneira que diversas cervejarias americanas vêm baseando suas criações na cultura literária, televisiva e cinematográfica  e trabalhado mais a fundo o conceito. É o que as cervejarias americanas, principalmente, têm feito com a cultura contemporânea.

Atrair Garrett Oliver para uma produção colaborativa foi uma conquista significativa. O "embaixador cervejeiro" da Brooklyn Brewery havia comentado, em entrevista ao 700Cervejas em abril do ano passado, que queria provar "cervejas com gosto de Brasil" e mencionou a cana de açúcar como possibilidade. Um mês depois, a red ale Uacari, da Cervejaria Nacional, de São Paulo, apareceu no Untappd. Em novembro, Garrett foi cortar cana, numa típica mas emocionante "photo-op" muito bem aproveitada na brassagem, transformada em evento. Mas a Saison de Caipira tem aparecido nos noticiários não especializados  e até em alguns especializados  como a primeira no Brasil a usar cana de açúcar na receita.