quinta-feira, 15 de setembro de 2011

# 30 - Baltika 6 Porter


Antes de qualquer coisa, preciso confessar que não tenho simpatias pelo estilo desta cerveja, mas... está na lista e eu tenho uma missão a cumprir. Exige sacrifícios.

Como meu objetivo não é ser imparcial, isento nem nada parecido, faço questão de deixar claro logo pra não ser depois acusado.

Será que todas as porters vão ter avaliações ruins minhas? É possível. De qualquer forma, os leitores não devem encarar isso como indicativo de que a cerveja não é boa. Na dúvida, experimente e tire suas conclusões.

Isto posto...



Russo fazendo cerveja é um conceito que demorou para entrar na minha cabeça.

Só conheci um russo de verdade – correspondente da agência Itar-TASS a quem ajudei numa pauta sobre criminalidade no Brasil -, mas li bastante coisa, principalmente memórias de russos ilustres, e conheço dois brasileiros entusiastas da "Pátria Mãe. Noves fora a importância histórica, é um povo cuja bebida nacional é destilada de qualquer-coisa e usada tão somente para embriagar e afastar o frio das estepes e taigas.

Mas... achei uma Baltika número 6 Porter por R$ 17 e fui em frente.

Joguei na minha caneca de 500 ml (quem não tem, sugiro que compre) e o resultado foi uma cerveja de cor marrom bem escura com espuma bege que vai embora rápido. O aroma denuncia o gosto de malte torrado (muito), café (muito) e chocolate (pouco). O lúpulo mal aparece. De corpo, é meio "aguada" para uma cerveja deste estilo. O teor alcoólico é razoável (7% ABV), mas o álcool não se destaca muito. Deixa na boca um gosto amargo beeeem duradouro.


A Baltika, como se pode perceber pela foto, está longe do que se pode chamar de cervejaria artesanal. A companhia é formada por 11 cervejarias espalhadas pela Rússia - São Petersburgo, Yaroslavl, Tula, Voronezh, Rostov-on-Don, Samara, Chelyabinsk, Krasnoyarsk, Khabarovsk e Novosibirsk -, além de uma no Azerbaijão. É líder do mercado russo, com 39,7% de participação. Produz 5,2 milhões de hectolitros (ou seja, a bagatela de 520 MILHÕES DE LITROS) por mês de 30 diferentes rótulos, exportados para 70 países.

Em abril de 2008, foi comprada pela gigante dinamarquesa Carlsberg, que detém 89.01% (vocês não adoram esses números "redondos" do mundo dos negócios?) do capital. Um ano antes, a empresa tinha completado a fusão com outras três cervejarias russas: Vena, Pikra and Yarpivo. O processo tinha sido iniciado em março de 2006.

É curioso como a história da Baltika é uma metáfora da transição da Rússia do comunismo para o capitalismo. Vem do plano do governo russo de instalar em São Petersburgo a Associação de Leningrado da Indústria de Cerveja e Bebidas (Lenpivo) – que provavelmente serviria para mostrar como o proletariado unido sob o comunismo podia produzir cervejas melhores que as dos porcos capitalistas ianques e saxões.


A construção começou em 1978. Quando terminou e foi formada a estrutura da companhia, em 1990, já não existia mais a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (contexto histórico, aliás, que a companhia não menciona em seu texto de apresentação no site). Os primeiros carregamentos, em novembro daquele ano ainda nem tinham a marca. Só quando ela foi privatizada, em 1992, tornando-se companhia de capital aberto detido por 28 pessoas jurídicas e mais de 2 mil pessoas físicas é que surgiu a marca.

Desde maio de 2005, os mais de 12 mil empregados da companhia são comandados pelo – pasmem – oceanólogo Anton Artemiev. Entre 1992 e 2000, ele era chefe do departamento russo da consultoria Bossard, que orientou a transição da cervejaria rumo ao capital privado. Considerado um dos responsáveis pelo fato de a empresa ter achado investidores estrangeiros, ele foi nomeado em junho de 2000 como vice-presidente executivo e subiu cinco anos depois o último degrau da escada.

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