quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Bebendo com os olhos #3 - Cuvée René - Art Déco engarrafada

À primeira vista, e pra quem não está familiarizado com o estilo Lambic a que ela pertence, a Lindeman's Cuvée René nos dá a impressão de ser uma cerveja mais suave. Seu rótulo exalta um estilo que passa pelo Art Déco, que contribui para a impressão de que se trata de uma cerveja mais "manufaturada" do que o que o método de fabricação sugere.

Ao degustá-la, percebemos que algumas escolhas, sobretudo em termos de cores, foram muito bem aplicadas. Seu sabor avinagrado, ácido, vai muito bem com o amarelo carregado no magenta que permeia todo fundo de seu rótulo. O vermelho e o preto reforçam essa impressão sensorial da sua degustação. Aliás, o uso do vermelho ajudou ainda a destacar as iniciais do nome da cerveja em meio às curvas e desenhos complexos típicos de algumas estações de metrô em paris e demais adornos espalhados pela Europa em meados da década de 1920.

Creio que a escolha das famílias tipográficas tenha sido para contrastar com tantos elementos decorativos. A Cuvée tem em seu título uma "falsa serifada" (a serifa existe, mas não tão evidente) o que ainda nos prende ao estilo decorativo, contudo todo o resto é composto por lapidárias, o que facilita a leitura, destacando-se dos demais elementos.

No rótulo traseiro, um pergaminho nos remete, também, a época antiga em esse estilo de cerveja – que leva trigo em sua composição e é uma mistura de cerveja "jovem" com outra envelhecida por anos – foi fermentada pela primeira vez.

Alguns pontos negativos vêm do fato do elemento decorativo (em preto) abranger uma área muito grande no rótulo frontal. A marca da cervejaria, bem como o ano de fabricação da Cuvée, nos dão a impressão de terem sido jogados nos únicos espaços disponíveis em meio a tantas voltas e revoltas.

Para finalizar, destaco o uso do papel metálico (do tipo foil) em tom dourado no lugar do recorrente rótulo de gargalo e a cor esmeralda da garrafa (que favorece a oxidação do líquido). Aspectos que passam a impressão de ser uma garrafa de champagne - o que não deixa de ser coerente.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Homenagem aos cervejeiros - Confira os vencedores do Prêmio Destaques BBC 2012

Dos 40 integrantes atuais do grupo Blogueiros Brasileiros de Cerveja (BBC), 25 (62,5%) votaram no Prêmio Destaques BBC 2012. A iniciativa vinha sendo pensada há alguns meses, tem como objetivo homenagear os profissionais e os produtos que têm marcado as profundas mudanças no mercado cervejeiro brasileiro. Agora, vamos aos vencedores.

Na categoria Lançamento, com 10 votos, venceu a imperial stout Wäls Petroleum. É uma honraria um tanto dúbia... trata-se, afinal, da versão da cervejaria mineira para a receita dos paranaenses da DUM.

Nessa categoria, meu voto ficou para outra da Wäls: a saison 42. Apesar de eu implicar com o fato de o estilo da cerva não fazer jus à referência que toma emprestada, do comediante inglês Douglas Adams, foi uma inesperada supresa positiva. Refrescante, equilibrada e inusitada.

Na categoria Cervejaria, com 7 votos, a paranaense Way Beer. Conheço pouco a Way, apesar de ser simpático às ideias deles. Comprei e experimentei o kit single hop, mas não fui muito além.

Votei na também paranaense Bodebrown como destaque do ano. Não só pelas cervejas que estão sendo reconhecidas em concursos internacionais, mas pela importantíssima parceria com os cervejeiros caseiros (fontes de ideias preciosas, como mostra o próprio caso da DUM acima) que a "Bode" está desenvolvendo.

Na Comunicação, com 10 votos, ganhou a paulista Colorado, que tem marcado presença nas redes sociais.

Meu voto, contudo, foi para a Eisenbahn, que mais me parece estar fazendo esforços concretos para comunicar sobre o produto. Inclusive produzindo um programa periódico em que o criador da marca apresenta e disseca os produtos lançados (o ProveTuite). Sem dúvida, para mim também pesou o fato de ter sido uma das (poucas) cervejarias que reconheceu e apoiou concretamente a criação da Convenção Nacional dos Blogueiros de Cerveja, sem o qual este prêmio obviamente não existiria.

Na categoria Inovação, com 8 votos, ganhou o kit Way Single Hop. Apesar de ser uma interessante experiência - são três garrafinhas de 330 ml de pale ales com diferentes lúpulos, trata-se de uma versão brasileira de um produto imaginado no exterior.

Meu voto, apesar de não ter ainda provado o resultado, foi o uso da cana de açúcar na Uacari Red Ale, da Cervejaria Nacional. Apesar das reportagens recentes creditando este feito à Wäls, é preciso deixar registrado que a Uacari está registrada no Untappd em junho deste ano - quatro meses, portanto, antes da Saison de Caipira ser sequer brassada.

Na menção honrosa de Melhor Importação, um empate: com 4 votos cada, a dinamarquesa Mikkeler e a americana Founders - ambas trazidas pela Tarantino Importadora. Meu voto foi da Founders, cuja evocação à cerveja feita para quem gosta de "forçar os limites do sabor" é irresistível - apesar de saber que a Mikkeler tem intenção semelhante.

Na menção honrosa de Acontecimento Cervejeiro, enfim votei no vencedor: a vinda de Garrett Oliver ao Brasil. Apesar, como mencionei acima, de a Saison de Caipira ser a primeira cerveja a usar cana de açúcar na receita, foi importante a participação dele na criação de uma bebida com um sabor mais abrasileirado.

O mestre cervejeiro da Brooklyn Brewery, que entrevistei este ano, já vinha sondando o país, a partir da amizade com o criador da Eisenbahn, Juliano Mendes, promoveu jantares harmonizados no Brasil, mas esta foi a primeira vez que veio mesmo para fazer cerveja.

Garrett Oliver é respeitado como cervejeiro, como chef (apesar de ele mesmo insistir que não é sequer cozinheiro) e como autor não só nos EUA, mas mundialmente. Tê-lo como garoto-propaganda voluntário da "criatividade cervejística" brasileira é impagável.

Os vencedores do prêmio, se assim o desejarem, poderão colocar em seus sites um selo anunciando a homenagem, que os BBC fornecerão. O Prêmio Destaques é mais um evento no calendário dos BBC, que já conta com o movimento #cervejadeverdade e com o Dia da Cerveja Brasileira, comemorado em 5 de junho.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

'Produzir como há mil anos, porém com tecnologia de ponta' - ENTREVISTA EXCLUSIVA COM JOHANNES WEISS, DA WEIHENSTEPHANER

O nome é longo e via de regra complicado para os brasileiros pronunciarem. Mas, para os amantes das weissbiers, as cervejas alemãs de trigo, conhecê-la é uma obrigação. Weihenstephaner (vái-rrens-ch-TÊ-fa-ner). O nome completo é pior ainda: Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan. O que, traduzido, significa apenas "Cervejaria Weihenstephan do Estado de Bayern (Bavária ou Baviera)". Detém o título de "alteste brauerei der welt", ou seja, "cervejaria mais antiga do mundo". Sim, do mundo. Foi fundada em 1040. Não, leitor, não foi erro de digitação. É 1040 mesmo. Quase um milênio.

Com tanto tempo de experiência, entende-se o nível de excelência alcançado pela cervejaria. A espuma da Weihenstephaner Weissbier é uma atração por si só. Pode durar quase uma hora no copo, como já pude comprovar, se não for perturbada. Um clássico. A versão bock desta, Vitus, está na segunda medalha de ouro no World Beer Awards (WBA). Mesmo tradicional, a empresa não se furta a experimentar, como na biére brut Infinium, parceira com a americana Boston Beer Company, detentora da marca Samuel Adams.

As Weihenstephaner já são bem conhecidas dos apreciadores brasileiros. E a cervejaria tem expectativas positivas para suas vendas no país. O gerente de Exportações da cervejaria, Johannes Weiss - pena que não o conheci pessoalmente, seria a oportunidade de fazer uma inevitável e infame piadinha com o nome dele - esteve no Brasil na semana passada, e o pessoal da On Trade fez a gentileza de transmitir a ele algumas perguntinhas nossas. Portanto, sem mais delongas...

JOHANNES WEISS
GERENTE DE EXPORTAÇÕES DA WEIHENSTEPHANER




Como o Brasil está posicionado entre os mercados para os quais a Weihenstephaner exporta? Quantos litros estão sendo enviados para cá?

O Brasil está nos top 10 em volume de exportação da Weihenstephaner.

Que potencial vocês veem para o Brasil nos próximos anos? Quanto esperam crescer as vendas para cá?

Nós sabemos do crescimento da economia Brasileira e o desenvolvimento no segmento de cervejas especiais. Nossa expectativa é que a marca acompanhe este crescimento e cresça junto com a economia. Nossa expectativa é de um crescimento de 15% ao ano.

Vocês lançaram, em conjunto com a Boston Beer Company, a "biére brut" Samuel Adams Infinium. Veremos outras parcerias deste tipo?

A Infinium está tendo sucesso acima das nossas expectativas. Desde de que haja um projeto no nível das marcas, não descartamos a ideia.

Este ano, a Vitus (weizenbock) ganhou de novo medalha de ouro no World Beer Awards (WBA). Isto surpreendeu vocês?

Nós não esperávamos ... (risos) Com certeza, é pra isso que a marca trabalha. Nós realmente não esperávamos! Após ganharmos o primeiro prêmio, nos dedicamos ainda mais para sustentarmos esta qualidade e o nível dos produtos.

São quase mil anos de história. Qual a filosofia da cervejaria para atravessar tantas épocas diferentes?

Nossa cervejaria foi destruída quatro vezes em sua história. A cada vez que se reerguia, os processos eram melhorados, mantendo sempre a mesma receita. Além disso, na última década, aconteceu a Technical University Munich, que inova processos, visando melhorias contínuas dos processos de fabricação cervejeira. Os ingredientes são das mesmas regiões, lúpulo da região de Freising, etc. Sendo assim, nossa filosofia é produzir com a maior qualidade possível, como há mil anos, porém com tecnologia de ponta.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Blogueiros Brasileiros de Cerveja lançam prêmio Destaques 2012


Depois da campanha online #cervejadeverdade e do Dia da Cerveja Brasileira, os Blogueiros Brasileiros de Cerveja (BBC) decidiram prestar suas homenagens àqueles que estão na linha de frente do mercado nacional: cervejarias, lojas especializadas, importadores... Enfim, aos que têm tornado possível que o público caminhe em direção ao ideal que propagamos, de beber menos e beber melhor, e de fazer com que cada cerveja bebida seja uma experiência única.

A partir deste ano, o grupo organizará também o Prêmio Destaques do Ano BBC, que elegerá por livre escolha (sem lista de indicados) dos blogueiros, os melhores em seis categorias: Lançamento, Cervejaria, Comunicação, Inovação, e as menções honrosas de Melhor Importação e Acontecimento Cervejeiro.

Blogueiros que mantenham qualquer tipo de atividade comercial relacionada a uma categoria ficarão impedidos de votar nestas categorias. Nas demais categorias, não haverá impedimento. Os nomes dos vencedores serão divulgados no dia 7 de dezembro (sexta-feira), por meio dos blogs participantes.

Até a edição de 2013, os vencedores poderão adotar um selo eletrônico desenvolvido especialmente pelos BBC para marcar a escolha.


============ CATEGORIAS ============

LANÇAMENTO
Cerveja, independentemente de estilo, desde que registrada pelo Ministério da Agricultura e comercializada pela primeira vez entre 1o. de janeiro e 30 de novembro de 2012, que se destaque na avaliação dos jurados, em qualidade, aromas e sabores.

CERVEJARIA
Cervejaria, independentemente de porte, desde que registrada pelo Ministério da Agricultura, que se destaque na avaliação dos jurados devido à qualidade dos produtos e a ações de propagação da cultura

COMUNICAÇÃO
Cervejaria, independentemente de porte, desde que registrada pelo Ministério da Agricultura, que se destaque na avaliação dos jurados em relação ao uso das ferramentas de comunicação voltadas para o público e para a mídia especializada.

INOVAÇÃO
Contribuição de caráter inédito, de pessoa ou empresa, para o desenvolvimento do meio cervejeiro, seja novo método de produção, produto, modelo de negócios, etc.

MENÇÃO HONROSA MELHOR IMPORTAÇÃO
Prêmio simbólico para a cerveja estrangeira regularmente importada, sob responsabilidade de uma distribuidora juridicamente constituída, que se destaque na avaliação dos jurados, em qualidade, aromas e sabores.

MENÇÃO HONROSA ACONTECIMENTO CERVEJEIRO
Prêmio simbólico para os demais aspectos do meio cervejeiro, como eventos e produtos de divulgação da cultura cervejeira.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A celebração carioca da cerveja belga - O que rolou no 3° Belgian Beer Festival


A viagem foi longa, a volta uma aventura e o evento uma loucura, mas retornamos incólumes da Barra da Tijuca, onde fomos investigar o que estava rolando do 3° Belgian Beer Festival. Trabalho muito árduo, como vocês podem imaginar.

O festival, que no ano passado foi realizado no Clube Marimbás, de cara para as águas de Copacabana, desta vez ocupou a Casa do Canal, um lugar bem interessante às margens do canal da Barra, com vista agradável, mesmo sendo no meio da areá urbana.

Chegamos lá bem atrasados, por volta das 16h (o evento começou às 13h) e já no salão de entrada onde estavam as comidas, era possível ver que a festa rolava solta. Por uma janela, via a galera sedenta, alguns até já com os olhos meio injetados, esticando os braços à espera de um copos das diversas nas torneiras.

As comidas, por onde passei primeiro (amém), estavam ótimas e algumas foram preparadas tendo as cervejas como ingrediente. O cardápio foi o mesmo do ano passado - o que nos leva a crer que prevaleceu o pensamento do "time que tá ganhando não se mexe". Tinha uma sopa de Hoegaarden e uma carne com maçã cozida na Maredsous 8 que estavam sensacionais. Se eram complexas ou tinham receita secreta, não sei. O cozinheiro foi trazido de São Paulo.

Os clássicos salgadinhos (croquete de queijo) e batata-frita não duravam muito. Cheguei a ver algumas pessoas, sem educação alguma, levando a bandeja INTEIRA para a mesa. O mesmo fizeram com a sobremesa, um chocolate belga que parecia uma mistura de Sufflair com Nutella, bom demais.

De estômago forrado e pronto para guerra, fui até o balcão tentar pegar uma cerveja tirada da torneira. Missão nada fácil. Até os demais foliões ficarem incapacitados estava um pouco complicado conseguir um copinho. Afinal de contas, além da já mencionada Maredsous, havia em jogo outras preciosidades belgas, como Gouden Carolus, Kwak e La Chouffe.

Nove chopeiras de duas torneiras quase todas plugadas com Karmeliet, Kwak, Maredsous (6, 8 e 10), Carolus Classic, Lindemans Fruitesse, Hoegaarden, e alguma que me esqueci, faziam a alegria dos bêbados presente. Duvel era servida em garrafas, que alguns cervejeiros caseiros fizeram a festa no final.

Conversando com o público durante o evento, ouvi que as cervejas servidas em garrafas estavam melhores que as da torneira, o que pode ter de fato acontecido ou pode ter sido só impressão de quem relatou isso. Houve quem reclamasse que a variedade de comida havia diminuído - apesar dos pratos servidos terem sido os mesmos do ano anterior. Ainda assim, nada sério, que provocasse qualquer desânimo ou insatisfação.

A conclusão é que, quando tem bebida liberada e ingresso "caro", o pessoal procura fazer o evento "valer a pena". Seja na Zona Oeste ou na Zona Sul, a maioria sai trocando as pernas. Alguns caem, tropeçam ou se apoiam nos amigos.

Outros saem sóbrios, como eu. Com a sensação do dever cumprido.

sábado, 24 de novembro de 2012

Cerveja boa é cerveja livre - Abaixo a ditadura da Reinheitsgebot


Comecei a conhecer boas cervejas, como acontece com muitos, pelas cervejas alemãs de trigo. Mais especificamente, as bávaras. Na Alemanha, onde "região" quer dizer "sabor (de cerveja) diferente", essa distinção é particularmente importante.

Além das lagers de Munique, etc, as bávaras, grosso modo, são representadas hoje em dia pelas weizenbiers, que têm como principal característica o aroma frutado que lembra banana e cravo – efeito produzido não pela adição destes ingredientes, mas pelas leveduras utilizadas na bebida.

Foi em cervejas brasileiras que vi pela primeira vez menções à Reinheitsgebot, "Lei de Pureza Alemã", ou ainda "Exigência de Pureza". Estampadas nos rótulos com inegável orgulho, que muitas mantém hoje em dia, quando já devíamos ter superado esse estágio. Mas é preciso separar a obediência a esta regra arcaica de qualquer consideração sobre a "qualidade" da cerveja.

Confundir as coisas não é crime, mas distorcê-las talvez devesse ser. Modernamente, a Reinheitsgebot é marketeada a torto e a direito como "tradição", com um ar de superioridade, usada como gancho para cativar os clientes. Virou fetiche. Só que não é por ser tradição que é necessariamente benéfica.

 TRADIÇÃO NÃO É QUALIDADE

E se, em vez do lúpulo, o cervejeiro alemão quiser temperar e conservar a cerveja com uma mistura de ervas, o gruit, como se fazia antes de 1516? Não seria ainda mais tradicional, e, portanto, de qualidade ainda maior?

Se você respondeu mentalmente "não", concordamos na realidade básica da coisa. Até porque, convenhamos, mesmo os mais refinados métodos de higiene do século 16 seriam repugnantes hoje em dia.

Se vamos ser tradicionalistas mesmo, adotemos então as lambic como cervejas favoritas, já que usam o método tradicional de sequer selecionar a levedura que vai ser usada para fermentar o mosto. O que cair é presente de Deus.

A família real da Baviera manteve, por séculos, monopólio da produção de cervejas de trigo. Isso não diz nada? Se só as cervejas que seguiam a regra dos três elementos tivessem qualidade, por que a realeza teria predileção pelas "inferiores"? A Reinheitsgebot ganhou nos anos 1990 essa alcunha, "exigência de pureza". Isso, depois de ter sido considerada pela justiça da União Europeia como prejudicial à livre concorrência.

A livre concorrência, me parece, é coisa que mesmo os cervejeiros artesanais, capitalistas por mais que sejam vistos sempre com o manto sagrado da ideologia, deveriam defender. Nem que da boca pra fora.

DOS SEIS ARTIGOS, CINCO SÃO SOBRE OS PREÇOS

O importante é que o decreto do duque Guilherme IV não traz considerações sobre a motivação do ato em seu preâmbulo, muito menos justificativas como a de que se trata de uma medida visando ao benefício do povo. Natural. Onde já se viu, afinal, um monarca ter que se explicar aos súditos?

No texto em si, não há elemento que permita a interpretação positiva que lhe atribuem. Resta a análise fria dos seis "artigos".

 Os quatro primeiros se ocupam dos preços máximos que se podia cobrar por cada tipo e quantidade de cerveja. O último volta a falar de preços. E mostra preocupação com escassez da cevada, dando a entender que o governo desapropriaria estoques privados que julgasse necessários.

Nur Geschäfte. Just business. Apenas negócios.

É no penúltimo artigo que os defensores da visão benevolente sobre essa tal "exigência de pureza" se fiam. Curiosamente, o texto não faz referência a esse conceito de pureza nem nada minimamente semelhante. Afirma que "deseja enfatizar" (indicando que isso já devia ter sido alvo de legislação) que os ingredientes "no futuro, em todas as cidades, nos mercados e no país na fabricação de cerveja eram devem ser malte, lúpulo e água".

A levedura, como todo mundo que leu um pouquinho a respeito já está careca de saber, só foi descoberta no século 19, foi adicionada posteriormente ao texto, etc etc... E estabelece ainda que a punição para quem fizer algo diferente é o confisco da mercadoria, "sem falha". Ou seja, não aplicava punição severa a quem transgredisse.

Nada nela ecoa, nem de longe, uma preocupação tão fundamental com os reles plebeus bebedores.

O texto, curiosamente, não menciona qual seria o fim da cerveja feita fora dos padrões apreendida. Pode-se apenas especular.

UMA LUZ NO FUNDO DA CALDEIRA DE MOSTO

Estabelecido que não se trata de qualidade, resta a questão filosófica. A Reinheitsgebot não faz muito mais do que limitar a criatividade dos cervejeiros. De condicioná-los a repetir que o fato de estarem usando os tais ingredientes quase místicos confira "qualidade", "pureza" à cerveja.

As meras combinações entre esses quatro elementos são capazes, sem dúvida, de gerar uma gama enorme de aromas e sabores. E daí? Por que vestir a camisa de força? O cervejeiro deve se sentir culpado se ficar com vontade de adicionar nozes e passas à sua cerveja escura? Deve se autoflagelar?

Felizmente, já estamos vendo no Brasil uma bela "contra-cultura cervejeira", em busca de experimentações e inovações. Isso se manifesta tanto nas artesanais de médio e pequeno porte, com seus lançamentos sendo reconhecidos no exterior, como nos cervejeiros caseiros, com as amostras enviadas aos concursos que têm sido realizados em diversos estados.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cervejaria Providência planeja começar venda em garrafas até junho de 2013

"Não ouvi mais nada. Seus carros partiram em direções diferentes e fui tomar minhas providências. "Que providências?" "Um pouco de carne fria e um copo de cerveja", respondeu Holmes, tocando a campainha. CONAN DOYLE, Arthur. "Um escândalo na Boêmia", in As aventuras de Sherlock Holmes.
"Tomar uma providência" pode ter um significado bem mais agradável do que o enunciado sugere, como mostra este pedaço de diálogo do detetive mais famoso do mundo, Sherlock Holmes (como bom inglês, apreciador de um pint de bitter ale), com seu fiel escudeiro, dr. John Watson. Instalado em Cascavel, no Paraná, num terreno à beira da BR-277, rodovia que liga o Porto de Paranaguá a Foz do Iguaçu, um grupo de amigos está firmemente dedicado a conferir esse mesmo sentido (fica a dica da referência literária) à expressão. É o pessoal da cervejaria... Providência, é óbvio.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Festa da cerveja e da culinária belga chega à terceira edição no Rio de Janeiro

Amantes das cervejas e comidas típicas da Bélgica (como este que vos escreve), preparem o coração - e o fígado, e o estômago - para fortes emoções. No próximo dia 24/11 (sábado), o Rio de Janeiro receberá a terceira edição do Belgian Beer Festival, organizado pelo cervejólogo e empresário belga Xavier Depuydt.

O evento, que em 2011 rolou no Clube Marimbás, em Copacabana, este ano será na Casa do Canal, na Barra da Tijuca. Estarão em campo mais de 20 rótulos de cervejas e chopes (no ano passado, foram 15) - incluindo Delirium, Gouden Carolus, Kwak, La Chouffe, Liefmans, Lucifer, Maredsous e Tripel Karmeliet - harmonizados com deliciosos pratos belgas... preparados com cerveja, claro.

Entre estes, destacam-se croquetes de queijo com Maredsous, mexilhões cozido na cerveja e vinagrete, sopa de Hoergaarden com queijo gruyère e Vlaams Stoofvlees (carbonade flambado cozido na cerveja Leffe Brune).

Os ingressos custam R$ 300 para os homens e R$ 200 para mulheres. Parece muito, até que se lembre que tanto as bebidas quanto as comidas - de alta qualidade - são liberadas o dia inteiro.

Figura carimbada do meio cervejeiro, Xavier é um dos pioneiros da cultura cervejeira no Brasil, país que adotou em 1996. Em 1999, ele abriu a Belgian Beer Paradise, a primeira loja - espaço para degustação de cervejas Belgas do país, que recentemente passou a se chamar The Ale House Deli. Além da loja de Ipanema, ele abriu outra com o mesmo nome em São Paulo e agora ainda comanda o pub The Ale House, também na capital paulista (do qual falaremos mais aqui em breve).

SERVIÇO
Belgian Beer Festival – 3ª Edição
Data: 24 de novembro de 2012
Horário: 13h às 23h
Local: Casa do Canal
Endereço: Rua Maria Luisa Pitanga 110, Largo da Barra, Barra da Tijuca, RJ
Reservas: (11) 3596-7190 / (21) 3256-2595 ou pelo e-mail
sac@belgianbeerfestival.com.br

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Monastério dos EUA recebe selo da Associação Trapista Internacional

Sala de estudos e orações da Abadia de São José: novos trapistas. Fonte: spencerabbey.com
A Associação Trapista Internacional deu as boas-vindas, na mais recente edição de sua newsletter, ao monastério de São José (St. Joseph), em Massachussets, nos Estados Unidos, como seu 19º integrante, e o 1º fora da Europa. Os produtos certificados foram as compotas, geleias e marmeladas, mas está começando a fermentar a ideia da primeira cerveja trapista criada fora do continente europeu.

Quanto tempo até que eles passem a produzir cerveja? A especulação em torno do assunto começou há um ano, quando levantaram essa questão no fórum do Ratebeer, devido a uma reportagem do Telegram.com. Nela, o padre Robert, porta-voz da comunidade, citou que o "irmão Brian" estava fazendo curso de cervejeiro e mostrou-se bem pragmático:

- Há todo um culto quanto a beber cerveja. É para este mercado que vamos.

A julgar pela afirmativa, não restam muitas dúvidas que eles pretendem seguir o caminho da Engelszell, que recebeu o selo oficialmente em outubro, nada menos que cinco meses depois de sua aprovação ter sido anunciada, oficiosamente, em maio. A ITA não especfica a duração da avaliação, limitando-se a citar que dura "vários meses".

E que tipo de cerveja os trapistas dos EUA produziriam? Vão aderir aos anseios da nação lupulomaníaca (hophead) ou remeter às ales mais tradicionais? Veremos. Há ainda no Ratebeer um rumor sobre participação da Chimay no empreendimento, portanto, o que pode aparecer também, e agora estão ficando muito comuns, são os estilos híbridos reunindo o caráter maltado das belgas com a explosão de amargor dos lúpulos americanos.

A Volta ao Mundo em 700 Cervejas entrou em contato com o monastério de São José, mas ainda não recebeu resposta.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

'Quero provar cervejas com gosto de Brasil' - ENTREVISTA EXCLUSIVA COM GARRETT OLIVER



Em viagem a Nova York no meio deste ano, encontrei o mestre cervejeiro da Brooklyn Brewery, Garrett Oliver, por acaso, bar Blind Tiger, no SoHo. Coincidentemente, no dia em que fui levado lá por meu beer-cicerone novaiorquino - um executivo de médio escalão de um banco de investimentos com sede no distrito financeiro da cidade - o bar estava recebendo um evento de degustação de lançamentos e clássicos da Brooklyn, e ele estava lá para dizer algumas palavras alusivas. Amaciado por dois deliciosos exemplares da "reserva do mestre cervejeiro", o wheat wine The Companion e a specialty ale The Concoction, apresentei-me como jornalista e beer blogger brasileiro e pedi uma entrevista.

Ao ouvir que eu era do Brasil, ele abriu um sorriso e topou na hora. Pediu que eu entrasse em contato para vermos os detalhes. Quando o fiz, Garrett veio com uma sugestão muito melhor que a simples entrevista que eu havia sugerido: me convidou para uma visita à cervejaria guiada por ele, junto com um cervejeiro argentino também visitante, e para o jantar harmonizado que promoveria na mesma noite para os distribuidores das suas cervejas na região.

Visitando o depósito: paraíso cervejeiro em forma de pilhas de caixas

À mesa: Local 1, 2 e Sorachi
Foi um passeio de cerca de duas horas, acompanhado por uma taça de single-hop farmhouse saison Sorachi Ace, pelas duas unidades da Brooklyn. A cervejaria em si - na qual conheci o Monster, o gato que ficava aninhado na sala de controle dos tanques de mostura - e um depósito a poucos metros desta. término, ele serviu ainda uma mesa com as suas preferidas da Brooklyn - a strong golden ale Local 1, a belgian dark abbey ale Local 2, Sorachi Ace - e ainda tirou da torneira uma taça da "big" IPA Blast, com uma espuma inacreditavelmente densa e duradoura.
Explicando o rótulo da Local 2

Contou a história do logotipo, desenhado pelo craque Milton Glaser (criador do logo "I love NY"), e da série "Local", estes inspirados no antigo sistema de trens da cidade. No caminho para o jantar, dirigindo seu carro esporte, Garrett fez uma análise das mudanças em curso na área, que estava se recuperando de um longo período de degradação socioeconômica.

A equipe da cervejaria se virando na cozinha, sob o comando do mestre

Cinco deliciosos pratos foram preparados na nossa frente na cozinha-escola de uma loja de especialidades culinárias que abriga cursos de culinária e zitologia. O cardápio incluiu uma raridade que ele ainda estava experimentando, a Wild 1, uma versão da Local 1 fermentada com “Brett” (como ele chama, carinhosamente, as leveduras Brettanomyces bruxellensis). Na sequência, fizemos a entrevista degustando uma dosezinha de lambuja da maravilhosa imperial stout Black Ops – e ainda saí de lá presenteado pela assistente dele com uma garrafa que sobrou da comilança/bebelança.

Plateia formada por distribuidores da Brooklyn

Garrett contou que foi convidado por Juliano Mendes, então à frente da cervejaria Eisenbahn, para fazer o que ele faz de melhor, ou seja: atuar como Embaixador da Cultura Cervejeira. Usar sua eloquência e simpatia para ajudar as pessoas a perceberem a riqueza do mundo da cerveja. Em 2006, participou de alguns jantares ao lado da chef Roberta Sudbrack.
Preparando o molho carbonara

Para ele, a cultura cervejeira brasileira se desenvolveu a partir da base histórica germânica, absorvendo primeiro as influências britânicas (por extensão, as estadunidenses), e, posteriormente, as belgas, em um espaço de cerca de quatro anos. Nos EUA, compara, a chegada da influência belga demorou 20 anos. "De certas maneiras, vocês estão crescendo mais rápido", afirmou.

Garrett deixou escapar, também, seu desejo de ver os brasileiros trabalhando com ingredientes mais característicos do país, citando, inclusive, a cana-de-açúcar, que será usada na saison colaborativa que fará, em novembro, com a cervejaria mineira de alma belga Wäls - ele desconversou quando perguntei sobre planos para o Brasil.

Garrett cobra uma personalidade realmente brasileira nas cervejas. Destaca o exemplo da Colorado com a rapadura. "Eu quero provar algumas cervejas que tenham gosto de Brasil" disse. "minha pergunta para cervejeiros brasileiros é: eu posso ver suas habilidades e a cerveja tem um sabor agradável, agora ... quem é você? O que você tem para nos mostrar?", desafiou, completando em seguida, diplomaticamente como de costume: "Eles vão nos mostrar algumas coisas muito legais, tenho certeza disso".


Missão cumprida, jantar encerrado, Garrett fala de suas experiências como cervejeiro
ENTREVISTA EXCLUSIVA
GARRETT OLIVER // MESTRE CERVEJEIRO DA BROOKLYN BREWERY


Como você vê o que está acontecendo no Brasil?

Bem, o Brasil me fascina, porque ... A primeira vez que fui ao Brasil foi há seis ou sete anos. Conheci a família Mendes, que comandava a cervejaria Eisenbahn. Eles vieram a mim e disseram: “Garret, nós estamos tocando uma cervejaria nova, precisamos de alguém para falar sobre cerveja, comida, a vida, e tudo mais, você pode vir para o Brasil e fazer alguns jantares conosco?”

Vocês promoveram jantares com a chef Roberta Sudbrack, em 2006.

Era um restaurante maravilhoso, sério... tantos lugares maravilhosos, de uma cidade a outra. Então, fui para a fazenda com a família, fui a Bombinhas, onde ficávamos na praia. Eles venderam a cervejaria, mas acho que os veremos novamente no mercado cervejeiro. Agora, eles são meus amigos, e visito o Brasil sempre. Na maioria das vezes, não para fazer negócios, mas só para me divertir. Mas é sempre bom voltar. E eu fiquei fascinado em ver a historia cervejeira que o Brasil tem. Porque eu não sabia, quando fui a primeira vez, que o Brasil tinha uma grande influência germânica na sua história, que gerou uma grande cultura cervejeira.

O que está acontecendo no Brasil agora é o que aconteceu nos EUA no fim dos anos 70?

Talvez, para nós, meados dos anos 90. E, em certos aspectos, vocês estão crescendo mais rápido. Vocês começaram com coisas vindas de uma tradição alemã. Logo, começaram a ver uma IPA aqui outra ali. Agora, vocês estão começando a ver a influencia belga chegando também. Você olha para a cultura cervejeira americana.... talvez você volte a 1983, 1984, e demorou 20 anos para começar a ter influência belga. No Brasil, talvez três ou quatro anos. Então, você vê um encurtamento do tempo de desenvolvimento. Eu vejo gente como o Marcelo da Colorado, e outros caras do Brasil viajando, pegando ideias sobre produção de cerveja, voltando para o Brasil e fazendo coisas realmente interessantes. Então, agora eu penso que vocês tem uma base, que começou com a herança alemã, depois adicionou a inglesa, depois a americana, belga... Eu acho que isso é o mais interessante... Eu quero ver alguém fazer uma cerveja com caju. Eu quero ver alguém fazer uma cerveja que tenha uma característica brasileira distinta. Talvez trabalhar com os produtores de cachaça para fazer alguma coisa com o caldo da cana, ou alguma coisa com esses aromas. Olhe o que a Colorado está fazendo com o açúcar da rapadura... e coisas como essa, para desenvolver sabores brasileiro distintos, eu acho que isso vai ser bem legal.

Você trabalhava para a HBO antes de ser cervejeiro. Quando voltou da Inglaterra, depois de ter provado cervejas de tantos sabores diferentes, pensou que aquilo mudaria sua vida de tal forma?

Não foi assim tão rápido, porque eu tinha um bom trabalho, estava ganhando um bom dinheiro, as coisas estavam bem fáceis. Então, quando que você sai de fazer outra coisa para fabricar de cerveja, na maioria dos casos você descobre que as coisas vão de "serem fáceis" a "serem difíceis". Mas isso é uma das coisas que faz a indústria cervejeira tão apaixonada, é que as pessoas tenham desistido de muita coisa. Elas saíram de empregos que estavam pagando-lhes um bom dinheiro, que tinham um futuro claro, e ainda tinham que pagar por suas casas, seus carros, seus filhos e tudo mais. Mas eles disseram, ainda assim: “Eu estou deixando de ser bancário, estou deixando de ser advogado, vou ser cervejeiro em vez disso. Vou ser feliz”. E isso é a coisa inspiradora. É por isso que o movimento da cerveja artesanal é tão inspirador, porque as pessoas desistiram de muita coisa, para fazer o que eles vão fazer. E agora que eles estão aqui, dizem: "Não vou me submeter. Vou fazer o que eu quero".

E como foi, para você a mudança?

Bem, foi difícil em alguns aspectos. Especialmente porque ... é você deixar de estar confortável para ficar com muito calor e se queimar. É como trabalhar na cozinha. Não é glamouroso. Pode ser divertido, mas não é glamouroso. Tem mangueiras e canos... mas há partes românticas. E eu acho que você tem que sentir aquilo. Se não está no seu coração, você não vai fazer. Não vale a pena, eu quero dizer. Você vai trabalhar muito, muito duro. Muitas pessoas pensam: “Ah, olha, todo mundo está falando sobre fabricação de cerveja artesanal, e há esses caras novos”... e então você vai lá, e eles dizem: “Cara! É muito quente aqui, isso é muito difícil. Eu estou fazendo um monte de trabalho de encanador. Fui para a faculdade por quatro anos, tenho nível superior, tenho mestrado, porque estou fazendo todo o trabalho de encanador?” E algumas pessoas vão além e veem a beleza nisto tudo e algumas param no caminho e voltam. É o mesmo que em qualquer outra coisa. Mas eu acho que o que faz a cerveja artesanal são as pessoas, suas ideias, seus sonhos, suas inspirações. As pessoas vão dizer: 'Sabe, há vinte anos, viajei para um lugar especial, e fiquei com um monte de sabores na cabeça e agora estou traduzindo esse monte de sabor em todos os tipos de cerveja.

Tem planos para o Brasil?

Bem, ainda não ... Tenho certeza de que o Brasil tem planos para o o Brasil, mas nós ... Nosso plano para o Brasil é só para ... já estamos envolvidos lá há alguns anos, conhecemos um monte de cervejeiros há alguns anos, e nós só queremos ser parte da cena e nos divertirmos. Quero dizer, obviamente, o Brasil é um país que, por 20 anos, ou mais, as pessoas têm dito: 'Brasil é o próximo grande país', e levou um pouco de tempo ... não só na cerveja. Na economia, etc. E agora você começa a ver: ok, finalmente agora está acontecendo, o Brasil vai se tornar, de certa forma, uma potência mundial, e um lugar em que as pessoas têm que prestar atenção. As pessoas têm prestado atenção por um longo tempo para a música e algumas outras coisas, mas nunca prestaram atenção à cerveja brasileira. Anos atrás, tínhamos a Xingu, que supostamente era a cerveja brasileira, e só. E não há nada de errado nisso, mas a cerveja brasileira é muito mais interessante do que isso. Então, o que eu estou animado é em ver o que os novos cervejeiros brasileiros vão fazer, quais serão suas ideias. Eles podem ter influências de outros lugares, farão boas cervejas algo parecidas com as nossas, ou algo como as belgas, mas acho que vai acontecer no Brasil é que as pessoas vão fazer cervejas que são essencialmente brasileiras, e que é o que é vai ser emocionante. Quando ouço música brasileira, eu digo: Isso é música brasileira. Nós pegamos coisas de música brasileira, mas ainda parece com o Brasil. Eu quero provar algumas cervejas que tenham gosto de Brasil. E nos próximos anos, é o que você vai ver. E isso é o que mais me anima. É ótimo que as pessoas façam outras coisas, você sabe, mas ... ok, mas a minha pergunta para cervejeiros brasileiros é: eu posso ver suas habilidades e a cerveja tem um sabor agradável, agora ... quem é você? O que você tem para nos mostrar? Eles vão nos mostrar algumas coisas muito legais, tenho certeza disso.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Desmistificando a IPA: um britânico em busca da verdadeira origem da India Pale Ale

Adição de lúpulo para a cerveja 'resistir à viagem à Índia' é a base da lenda. DIVULGAÇÃO/HEINEKEN

Recebi alguns cumprimentos por ter escrito, recentemente, que há controvérsias sobre a onipresente descrição de que a India Pale Ale, a popular IPA, "foi criada com uma dose extra de lúpulo para suportar a viagem até a Índia, na época do Império Britânico". Agradeço-os, mas não posso aceitá-los. O crédito desta contestação bastante impopular - a lenda facilita bastante contar a história - pertence principalmente, pelo que pudemos apurar, ao jornalista britânico Martyn Cornell, autor do excelente blog Zythophile.

Na versão mais detalhista da lenda, existe até um herói e uma data. Cornell, em seu trabalho, buscou desconstruir ambas - e, pela aparente ausência de réplica aos seus argumentos, conseguiu. Primeiro, ele traçou o caminho da lenda ao livro "Burton-On-Trent: Its History, Its Waters, and Its Breweries", de William Molynaux, de 1869, que não citava fontes.

Cornell: desconstruindo o senso comum. REPRODUÇÃO/ZYTOPHILE
A ideia de que a cerveja até então não sobrevivia à viagem não resiste à análise de menções encontradas por ele em suas pesquisas de que as porter e um certo "vinho de malte" aguentavam muito mais do que os quatro meses de viagem entre a Grã-Bretanha e a Índia, por meio do Cabo da Boa Esperança. O comércio de cerveja entre a metrópole e a colônia estava estabelecido pelo desde 1711, segundo mostra uma balança comercial da Índia da época.

Sem negar a proeminência de Hodgson no comércio de cerveja com a colônia britânica Cornell analisa:
Outro mito é que os cervejeiros ingleses estavam ansiosos para entrar no mercado indiano. De fato, no início do século 19, o mercado era muito pequeno, apenas 9.000 barris por ano, igual a menos de meio por cento dos dois milhões de barris produzidos em Londres todo ano. Hodgson provavelmente tinha cerca de metade do mercado indiano, mas isso provavelmente, em grande parte, porque ele sua cervejaria era perto de onde os navios da Companhia das Índias Orientais aportavam, e porque ele estava disposto a permitir aos capitães (...) crédito dilatado, de até 18 meses, na cerveja que compravam dele.
Os artigos de Cornell a respeito das origens da India Pale Ale, legítimo fenômeno no mercado cervejeiro, merecem ser lidos com toda atenção. E questionados, se necessário, claro. Se na busca de fontes históricas confiáveis a pesquisa dele merece grandes elogios, no pensamento econômico, me parece que ficou devendo um pouco. O fato de o mercado indiano ser tão pequeno, em princípio, não é prova de que ele não possa se expandir. Muitos economistas que conheço diriam o contrário: que é um mercado com potencial de expansão enorme, virtualmente inexplorado.

Suas pesquisas levantam ainda lacunas importantes de informação como a proporção dos lúpulos usada na receita de Hodgson e reenquadram certos marcos temporais - como o de que a denominação India Pale Ale não foi usada antes de 1835; até então, eram normalmente chamadas “pale ales preparadas para o mercado da Índia (ou das Índias Ocidentais e Orientais)” ou coisa semelhante.

O inegável que ele reuniu elementos convincentes de que a verdade, como de costume, está bem longe do senso comum. Para quem quer escapar do senso comum, fica a dica.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Barão Vermelho será a próxima banda brasileira a lançar cerveja com marca própria


Em meio ao desenvolvimento acelerado do mercado cervejeiro do Brasil, a mistura entre rock n' roll e cerveja tem dado resultados positivos. Depois de Sepultura, Velhas Virgens e Blues Etílicos, mais uma famosa banda brasileira entrará no mercado de cervejas, ainda este ano.

Com lançamento previsto para novembro, a banda Barão Vermelho vem com força para entrar nesse mercado, segundo afirmaram ao blog A VOLTA AO MUNDO EM 700 CERVEJAS pessoas próximas ao projeto. A cervejaria responsável deverá ser do Rio de Janeiro.

Ainda não sabemos o estilo que será produzido, já que, segundo as fontes, ainda está em processo de decisão. É provavel que seja algo de grande aceitação, a exemplo da weiss produzida para o Sepultura pela Bamberg e da helles do Blues Etílicos, que traz a assinatura da Mistura Clássica.

Pesquisa da Unesp de 2006 já apontava altos índices de milho na cerveja


Poucas sensações são piores para um repórter do que ver outro publicando antes aquilo que você tinha nas mãos e demorou a publicar. Pois eis que no sábado, em pleno curso de Degustação e Análise Sensorial de Cervejas da Amanda Reitenbach, no bar Granel, começo a ver pipocar posts comentando a pesquisa da USP sobre a quantidade de milho nas cervejas, na reportagem de José Reinaldo Lopes na Folha de S. Paulo, excelente e veterano especialista em cobertura de ciências. Depois de uma semana de autoflagelação ("eu podia ter postado antes") por ter ficado atrasando, tomei coragem para ler o texto inteiro, e achei que havia algumas considerações a tecer.

A elas, portanto.

As pesquisas em direção a um método de identificação dos compostos da cerveja por meio de análise dos isótopos de carbono começaram na década de 1980, mas havia dificuldades para diferenciar o perfil de carbono da cevada do perfil do arroz. O trabalho "Determinação do percentual de malte de cevada em cervejas tipo pilsen utilizando os isótopos estáveis do carbono (δ13C) e do nitrogênio (δ15N)" de Muris Sleiman, Waldemar Gastoni Venturini Filho, Carlos Ducatti e Toshio Nojimoto, na UNESP de Botucatu, iniciado em 2002 e concluído em 2006, conseguiu dar passos além ao incorporar justamente o que a indústria alega que falta na pesquisa de agora da USP: a análise complementar dos isótopos de nitrogênio. E o que eles encontraram?
“Foram analisadas 161 amostras de cervejas provenientes de dezessete estados do Brasil. Concluiu-se que 95,6% utilizaram malte e adjunto cervejeiro (derivados de milho ou açúcar de cana: 91,3% e derivados de arroz: 4,3%) em sua formulação e outros 4,3% eram cervejas 'puro malte'. Das amostras analisadas, 3,7% eram cervejas com menos de 50% de malte em sua formulação (adulteradas), 28,6% delas estavam na faixa de incerteza, para qualquer tipo de adjunto e 67,7% apresentaram malte dentro do limite legal estabelecido.” (SLEIMAN, 2006)
Vale acrescentar que foram 60 diferentes marcas, procedentes de 63 fábricas, localizadas em 56 cidades do país. Os parâmetros físico-químicos das cervejas foram avaliados no Laboratório de Bebidas do Departamento de Gestão e Tecnologia da Faculdade de Ciências Agronômicas, e as análises da composição isotópica das bebidas, no Centro de Isótopos Estáveis Ambientais em Ciências da Vida do Instituto de Biociências.

Faixa de incerteza”, destaque-se, é o eufemismo técnico para "há risco de o consumidor estar comprando gato por lebre". Sabendo disso, vamos ler de novo, então, de outra maneira:

A análise mostrou que só pouco mais de DOIS TERÇOS das cervejas analisadas, ou seja, 108 das 161, possuíam COM CERTEZA percentual de malte até o permitido pela lei. Sobre as 53 restantes... sabe-se lá, não é mesmo? Mas os 28,6% não podem ser considerados adulterados além da famosa “dúvida razoável” dos tribunais. Os autores dizem que elas se encontram “no limite da legalidade”.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA APOIOU COLETA

O Ministério da Agricultura, diferentemente do que a Schincariol deu a entender, em sua declaração à Folha, conhece a metodologia há oito anos e não só a aprova como, ao saber da pesquisa da Unesp, ajudou-a na coleta das amostras em quase todos os 19 estados produtores de cerveja à época. Exigiu, porém, sigilo em relação às marcas. Portanto, infelizmente, não é possível determinar se são as mesmas marcas identificadas pela USP. Fica para a imaginação de cada um. A conclusão do estudo, pode-se dizer, foi branda e racional, como convém aos cientistas:
A fraude não é uma prática disseminada no mercado cervejeiro brasileiro que (sic) apresenta apenas problemas pontuais.” (idem)
À indústria, sempre resta o jus sperneandis (o "direito de espernear", como se diz em juridiquês bem-humorado), alegar que os estudos são falhos, que não é por aí, etc. A verificação dos isótopos é bastante consagrada, cientificamente, em diversos tipos de análise de bebidas. Se tudo o mais falhar , há ainda o mantra de que o uso de adjuntos é normal, suavizante, paladar do brasileiro, calor tropical, blábláblá.

A questão, no entanto, não é se a cerveja fica pior ou melhor com mais ou menos milho ou arroz. Está na informação devida ao público. Se a utilização de milho e outros adjuntos não impacta negativamente na qualidade do produto, como afirmam, porque não torná-la clara nas embalagens, nos rótulos? Os consumidores devem se contentar com a descrição de "Cereais não maltados" (quando aparece)?

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Consumo maior de cerveja aquece mercado de malte, matéria-prima básica da bebida

Grãos de cevada são usados para fazer o malte, matéria prima fundamental da cerveja (Divulgação/Heineken)

A temperatura está subindo no mercado de malte brasileiro. A compra do controle da Malteria do Vale pela francesa Soufflet, em agosto, por um valor não revelado - o que geralmente acontece quando a "adquirente" paga demais ou de menos pela "adquirida" - foi o sinal mais claro de que a expansão do consumo mundial de cerveja deverá ter repercussões profundas no Brasil. O país, afinal, é um dos maiores produtores mundiais de alimentos e a tendência é que cresça ainda mais nesta área nos próximos anos.

O malte é a matéria-prima fundamental da cerveja. É o grão, normalmente de cevada ou trigo, que é deixado em meio úmido para começar a germinar e depois passa por secagem - que interrompe a germinação. A intensidade do calor e o tempo da secagem dão cor ao malte, influenciando a cor e o sabor da cerveja. Ele é cozido com água, filtrado, e o resultado do processo, o mosto, recebe o fermento, que produzirá gás carbônico e álcool, completando a magia. Grossíssimo modo, já que os sabores e os aromas dependem também de outros elementos, as cervejas feitas com maltes claros, geralmente, lembram pão e biscoito, as avermelhadas, caramelo e nozes, e as escuras, café e chocolate amargo.

Jean-Michel Soufflet, presidente da Soufflet
A Malteria do Vale fica em Taubaté, em São Paulo, e produz 105 mil toneladas por ano. Com a participação nesse negócio, a Soufflet chega a 2,14 milhões de toneladas por ano (que o Valor exagerou para 5 milhões), ficando "apenas" 200 mil toneladas atrás da líder Malteurop.
Nas entrevistas que deu a respeito da negociação, o presidente da Soufflet, Jean-Michel Soufflet, destacou que a aquisição, a primeira da empresa fora do país, é parte da estratégia global da empresa em dois níveis: um, para acompanhar a concentração das indústrias cervejeiras em gigantes transnacionais, e dois, para brigar com a dona do pedaço no mercado de malte.

Em bom português: grandes chances de os gringos quererem nosso malte para vender ao resto do mundo. O malte produzido nacionalmente já é pouco - cerca de 40% do total consumido pela indústria, segundo fontes do setor - e periga fica ainda mais escasso.

A Ambev, que representa 70% do nosso mercado, sentiu o calo doer em seu balanço mais recente. O custo por volume subiu 3,4% e parte disso foi culpa, segundo a empresa, do "aumento dos custos das matérias-primas, princialmente o malte". Segundo estimativas de especialistas, o malte representa em média um peso de cerca de 75% no custo total da matéria-prima e 5% do preço total do varejo.

Principal cliente das maltarias brasileiras, a Ambev já começou se defender de uma possível redução da oferta já sofrível no mercado interno.

Nos próximos meses, a gigante deverá inaugurar sua quarta maltaria, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, com capacidade para 110 mil toneladas por ano. O investimento é de R$ 200 milhões.

A empresa também sinalizou discretamente que apoiará os que quiserem arriscar investimentos. Não faz muito tempo, o Governo do Estado de Santa Catarina anunciou que a Cooperativa Agrária, uma da principais fornecedoras da Ambev, vai gastar R$ 212 milhões para construir mais uma maltaria. A unidade, a terceira da Agrária, produzirá 80 mil toneladas de malte por ano a partir de 2015. Atualmente, a cooperativa tem produção total de 240 mil toneladas por ano.

Não encontramos registros de movimentações semelhantes por parte da Heneiken, outra megacervejaria multinacional instalada em terras brasilis. As outras grandes cervejarias, se o fizeram, fizeram na surdina. Como não têm capital aberto, ou seja, não negociam ações na bolsa de valores, não precisam tornar públicas uma série de dados.

sábado, 29 de setembro de 2012

Governo alivia cervejarias para o verão e dilui reajuste da carga tributária


Para aliviar a tributação de alguns setores da indústria, o governo decidiu aumentar a carga já pesada (PIS, Cofins e IPI) das cervejarias. Até aí, justo. O governo tem todo o direito de sobretaxar um setor que tem um "custo social", digamos assim, tão grande quanto o de bebidas alcoólicas e do tabaco.

Pois hoje o governo anunciou duas coisas: uma, que o aumento vai ser menor do que o anunciado anteriormente; duas, que ele vai ser efetivo a partir de abril do ano que vem, em vez de começar no próximo dia 1o. O efeito prático desta última medida é que as cervejarias não vão, teoricamente, precisar aumentar os preços no verão, quando já há uma alta sazonal devido à demanda.

- No dia internacional do happy hour (sexta-feira), estamos anunciando uma redução de carga para a cerveja - brincou o secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, no anúncio.

Piada bem sem graça. Pra não dizer que falta com a verdade.

Não vai haver redução da carga. Nem ela vai aumentar menos. O aumento, que deriva de uma mudança na base de cálculo da parcela dos impostos que incidem sobre o preço final do produto, vai ser diluído em seis anos, em vez de quatro anos, como estava previsto anteriormente. O maior reajuste na carga tributária será a cerveja em garrafa de vidro retornável, seguida da garrafa de vidro não retornável, e por fim as latas.

A estimativa do governo de repasse aos consumidores agora é de 2,15% - antes, era de 2,85%. Como já mostramos aqui, a Ambev admitiu, em apresentação feita a executivos de um banco alemão, uma elevação de mais ou menos 4% nas cervejas e 8% nas CSDs (carbonated soft drinks, bebidas leves carbonatadas, apelido corporativo dos refrigerantes).

Por que as cervejarias ganharam o prêmio?

Porque elas bancaram as boas meninas - diferentemente das empresas automobilísticas, que levaram bronca da presidente Dilma por demitirem após os generosos incentivos fiscais que alavancaram as vendas. Elas se comprometeram a renovar a frota de caminhões, ampliar as fábricas, enfim... investir, como quer o governo, alimentar as próprias medidas do Plano Brasil Maior, que gerou o aumento (não é irônico?). O crescimento do país não se sustenta só com consumo, afinal de contas...

E umas palavrinhas quanto às variações de preço da cerveja.

Confirmando as análises do Instituto DataCerva, a Agência Estado "descobriu" no último dia 25 (segunda-feira) o que quem lê o nosso blog já sabia há quase um mês: que a inflação da cerveja anda nada menos que O DOBRO da média da cesta de produtos cuja variação de preços é medida pelo IBGE.

Não arriscamos no post a hipótese da Irene Machado, que é uma excelente analista de varejo do instituto, sobre o repasse antecipado dos preços após o anúncio do pacote pelo governo porque é algo com o qual concordamos parcialmente. A maior parte da alta vem, como citamos no post, vem do segundo semestre do ano passado.

Os gráficos que publicamos do comportamento da inflação nas nove capitais pesquisadas pelo IGBE, por outro lado, apontaram uma alta súbita e significativa em maio, ou seja, após o anúncio do plano, que havia nos gerado essa suspeita. Os números dos meses seguintes parecem confirmar a tendência de alta, mas seria preciso a análise do comportamento do índice em anos anteriores para confirmar a influência desse aumento no resultado atual.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Inovamos de novo! O que rolou no 1° Quiz Cervejeiro do Rio

Vencendo duas das três rodadas, o leitor Marcelo Melo foi o vencedor do 1o. Quiz Cervejeiro promovido pelo blog A Volta ao Mundo em 700 Cervejas no Empório Icaraí, em Niterói, no último sábado.

O tempo feio não ajudou e o quórum acabou sendo bem baixo. Como apareceram apenas dois grupos com sede de conhecimento - e de cerveja, claro -, decidimos tornar a competição individual. O dono do Empório, Sílvio Brandão, decidiu também testar seu saber cervejístico e entrou na brincadeira.

Marcelo levou a primeira rodada, acertando quatro das cinco perguntas, duas delas consideradas por nós difíceis. Veio o merecido prêmio. Ele recebeu, das mãos do Sílvio, um belo weizen de 500 ml da Empório Camboinhas Weiss, cerveja de trigo da casa, fabricada pela Mistura Clássica.

O irmão dele, Márcio Melo, ficou na frente na segunda rodada, também acertando quatro das cinco questões. Desta vez, o prêmio foi um mass (canecão estilo alemão de 1 litro) do chopp Empório Icaraí, o pilsner da casa.

A disputa vinha acirrada, até que, na terceira e derradeira rodada, Marcelo não deu chance pro resto da galera: gabaritou as cinco perguntas e logo veio outro belo weizen 500 ml pousar em sua mesa. Como teve o maior somatório de pontos, ganhou ainda uma garrafa de 750 ml da witbier espanhola Estrella Damm Inedit.

Resumo: se a quantidade de jogadores foi pequena, a qualidade pelo menos foi grande. Nossas primeiras "cobaias" acertaram um bom número de perguntas, mesmo as mais difíceis (caíram em umas pegadinhas, vá lá). Demonstraram ter curtido bastante o jogo, fizeram elogios e deram sugestões para continuarmos aprimorando.

A próxima edição do Quiz Cervejeiro no Empório Icaraí já está programada para novembro! Vamos divulgar a data exata em breve. Para outubro, já temos outro evento no forno... detalhes em um próximo post.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Playboy estuda lançar cerveja de marca própria no Brasil


A Playboy Enterprises estuda o lançamento no Brasil de uma cerveja com a marca da revista masculina mais famosa do mundo, afirma a revista Ad Age, especializada em propaganda e marketing. A medida seria parte de um plano mais amplo para reforçar os negócios com base em licenciamento de marca da empresa, avaliados em US$ 1 bilhão.

- Estamos buscando oportunidades de negócios, em categorias que emulam o estilo de vida da Playboy - afirmou a diretora de Marketing da Playboy Enterprises, Kristin Patrick, à revista Ad Age. Os produtos licenciados são vendidos em 25 mil lojas em 180 países.

Em tempos de internet, a vida das publicações de papel anda difícil, e a da Playboy não é exceção. Enfrentando a concorrência desleal dos sites pornôs do mundo todo, a revista vem assistindo a recuos sucessivos em suas receitas.

Apesar de as vendas em banca terem crescido 17% do ano passado até agora, a circulação paga garantida foi reduzida de 1,5 milhão para 1,25 milhão de exemplares.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

1º BEER QUIZ do Rio de Janeiro vai ser no próximo sábado (22/9) às 19h !

Prometemos lááááá no começo do ano, e não esquecemos da promessa: fazer eventos diferentes das degustações e harmonizações que estão rolando por aí. O primeiro deles vai rolar no próximo sábado (dia 22 de setembro, às 19 horas), Bar Empório Icaraí.

Alguns anos atrás, começou a moda deste tipo de jogo de "trivia" no Rio. Houve alguns temáticos, de filmes, séries, esportes... Por que não um de cerveja? Estava decidido.

Custou alguns meses de pesquisas, mas chegamos ao pessoal do Empório, que nos recebeu muito bem, com a ideia do BeerQuiz. Depois, foi conseguir arrumar uma agenda que coincidisse... e cá estamos.

Se der certo, faremos mais.

Esperamos vocês lá!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Falta de barris e garrafas ameaça suprimento da Oktoberfest alemã

Cervejeiros que pretendem viajar para curtir a Oktoberfest em Munique, fiquem atentos: há risco de falta de cerveja por lá !

É esperado no evento o consumo de mais de 7,5 milhões de litros da bebida. As tradicionais cervejarias que fazem parte da festa, como Paulaner, Hacker-Pschorr e Hofbräu, dizem que podem ter problemas por não haver garrafas e barris suficientes para suprir a demanda deste grande evento.

Essa situação se deve, em parte, ao forte verão alemão, que elevou o consumo de cerveja. Outra parte seria pela reutilização das garrafas, que foi motivo para haver apelos nos noticiários locais, por parte da Paulaner/Hacker-Pschorr:

Caros cidadãos de Munique -- tragam de volta os engradados. Precisamos deles vazios!

E ainda, segundo a revista Der Spiegel, uma associação local pretende lutar contra os altos preços praticados na festa, fazendo um grande abaixo-assinado e aproveitando as eleições locais para pressionar os politicos.

Nós estamos visando a um preço máximo de € 7,10 por litro de qualquer bebida"

O mug de 34 onças (1 litro) deverá custar entre € 9,10 e € 9,50, ou seja, € 0,35 a mais que no ano passado. Além do preço máximo, os alemães querem estabelecer um teto para o aumento, de € 0,15 de um ano para o outro.

Um canal de TV russo fez as contas e chegou à conclusão de que o preço da cerveja na Oktoberfest cresceu 43% nos últimos dez anos. Caso o abaixo assinado consiga 30 mil a 40 mil assinaturas, deverá haver um referendo sobre o assunto.

Pois é, povo cervejeiro, são notícias preocupantes essas que vêm da Europa. Mais motivos, talvez, para prestigiar a versão nacional do evento, em Blumenau (SC).

sábado, 1 de setembro de 2012

Casa Branca libera receitas das cervejas do Obama

A Casa Branca publicou as receitas das cervejas produzidas pelos Obama antes mesmo que a petição atingisse as 25.000 assinaturas. Reflexo, sem dúvida, de pesquisas de campanha que devem apontar o quanto é saudável para a imagem do presidente e candidato à reeleição o personagem do "companheiro cervejeiro" Barack. Ainda mais agora que o candidato republicano Mitt Romney parece estar conseguindo controlar seu talento inato para gafes políticas e sociais...

Seria bom se os fundamentalístas que se incomodarem com o uso político da nobre tradição do homebrewing visualizassem o copo meio cheio: é melhor o hobby estar sendo tratado politicamente como algo simpático, saudável e positivo do que com os usuais chiados dos abstêmios conservadores. Vale a pena ler o comunicado oficial do Chefe Assistente e Consultor de Políticas de Alimentação Saudável, Sam Kass.

Apesar de a receita usar extrato de malte, que é pouco comum aqui no Brasil, e mel produzido nos jardins da Casa Branca, acreditamos que seja possível reproduzi-la. Iremos nos programar para fazê-las por aqui, mas caso alguém seja mais rápido, por favor, compartilhe conosco os resultados.

O comunicado traz também um vídeo mostrando uma leva das duas variedades sendo feitas pelos cozinheiros da Casa Branca, confira:


E finalmente, as receitas;




Também está disponível a versão em PDF

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A cerveja e a concentração de mercado no mundo

por Jota Fanchin Queiroz

Publicado originalmente no blog O Contador de Cervejas, e republicado aqui com a permissão do autor.

A concentração dos mercados e o surgimento de mega companhias transacionais é um fenômeno do século XXI. Em diversos segmentos fusões e incorporações fazem com que permaneçam um número cada vez menor de players no mercado com produtos cada vez mais padronizados globalmente. E o mercado de cervejas é um exemplo clássico dessa concentração. Hoje apenas quatro grandes companhias dominam mais de 50% do mercado mundial. São elas a belga Ab-Inbev (22%), a inglesa SAB-Miller (14%), a holandesa Heineken (9%) e a dinamarquesa Carlsberg (7%).

Uma corrente de economistas apregoa que esse é o capitalismo moderno. Eu discordo frontalmente. Não é capitalismo, e sim um cartel público privado que atende aos mais diversos interesses, menos o dos consumidores. O próprio Adam Smith já alertava que nada é mais perigoso para o livre mercado do que a reunião entre empresários o que diria ele dessa concentração desmedida patrocinada pelos estados. Mas é a realidade, e o objetivo desse post é analisar a concentração nos principais mercados do mundo. Podemos analisar em três níveis de concentração: mercado concorrencial, concentração moderada e concentração elevada.

No primeiro grupo, entre os dez maiores mercados do mundo, apenas a Alemanha. O único país com um verdadeiro mercado concorrencial. Isso se deve ao valor que a cerveja tem na cultura do país e à impossibilidade de players internacionais penetrarem em seu mercado.

No segundo grupo, a surpreendente China, a Rússia e o Reino Unido, com concentração moderada e forte presença de pequenas cervejarias.

E com mercado dominados por poucas empresas (oligopólios), em ordem crescente de concentração: Estados Unidos, Espanha, Polônia, Japão, México e Brasil.

1.China (CM=50%)
Produção Anual: 45 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 35 litros/ano
Concentração de Mercado: 50%
A concentração de mercado na China ainda é moderada, até mesmo pelas dimensões do país. Felizmente ainda subsistem diversas cervejarias regionais. Das empresas que dominam o mercado duas são chinesas: Tsingtao e Yanjing; e duas são transnacionais: SAB-Miller (Snow) e AB-Inbev (Zizhulin).

2.Estados Unidos (CM=80%)
Produção Anual: 23 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 79 litros/ano
Concentração de Mercado: 80%
O bastião do liberalismo, em que pese a revolução das artesanais, é um mercado bastante concentrado. Duas empresas, AB-Inbev (Bud Light) e SAB-Miller (Miller) dominam 80% do market share.

3.Brasil (CM=98%)
Produção Anual: 12 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 58 litros/ano
Concentração de Mercado: 98%
Amplamente dominado pela AB-Inbev, o mercado brasileiro é um dos mais concentrados do mundo. Além da dominação absoluta da empresa belga, três grandes cervejarias completam a concentração quase absoluta: a holandesa Heineken (Kaiser), a japonesa Kirin (Schincariol) e a nacional Petrópolis (Itaipava).

4.Russia (CM=76%)
Produção Anual: 10 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 73 litros/ano
Concentração de Mercado: 76%
A Russia também sofreu uma forte concentração em seu mercado nos últimos anos. Três empresas apresentam juntas 3/4 de market share: Carlsberg (Baltika), Heineken (Efes) e Ab-Inbev.

5. Alemanha (CM=38%)
Produção Anual: 9,6 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 107 litros/ano
Concentração de Mercado: 38%
Apesar de ter o segundo maior consumo per capita do mundo, a Alemanha é modelo de mercado sem concentração. A tradição alemã fala mais alto, impedindo que os grandes players mundiais ganhem espaço. A Alemanha é realmente um país especial.

6. México (CM=98%)
Produção Anual: 8 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 61 litros/ano
Concentração de Mercado: 98%
Na mesma situação do Brasil, o México apresenta um índice de concentração altíssimo. Duas transnacionais dominam o mercado: AB-Inbev (Modelo) e Heineken (Femsa).

7. Japão (CM=96%)
Produção Anual: 6 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 49 litros/ano
Concentração de Mercado: 96%
Outro mercado absolutamente concentrado, mas com players nacionais: Kirin, Sapporo e Asahi.

8. Reino Unido (CM=75%)
Produção Anual: 4,5 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 81 litros/ano
Concentração de Mercado: 75%
Em que pese o CAMRA e a tradição das ales inglesas, é também hoje um mercado relativamente concentrado. Quatro grandes companhias dominam: Heineken (Foster's), Carling, AB-Inbev (Stella Artois) e Carlsberg.

9. Polônia (CM=90%)
Produção Anual: 3,5 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 85 litros/ano
Concentração de Mercado: 90%
Como os países em desenvolvimento, a Polônia apresenta uma forte concentração de mercado que é dividido por três companhias transnacionais: SAB-Miller, AB-Inbev e Carlsberg.

10. Espanha (CM=82%)
Produção Anual: 3,3 bilhões de hectolitros
Consumo Per Capita: 80 litros/ano
Concentração de Mercado: 82%
A Espanha tem um mercado parecido com o do Japão que, apesar da concentração, ao menos tem grande participação de empresas locais. As três dominantes: San Miguel, Heineken e Damm.

Fonte: www.biersekte.de