sábado, 17 de setembro de 2011

'Cê pensa que cerveja é água?
Cerveja não é água, não...


A experiência da Samichlaus, com seus 14% de álcool – a mais forte que tinha bebido, até então, era a francesa Beelzebub, com 13%  – provocou reflexões. Quando descobri cervejas com 10%, 12% de álcool, passei a questionar os pseudo-machões biriteiros que dizem que não vão de cerveja porque é uma bebida fraca. Comecei a meditar a respeito. Se é álcool que querem... afinal, qual a cerveja mais forte do mundo? Quanto ABV (Alcohol by volume, pra ser chique) tem a dita-cuja?

A pergunta só podia me levar à inigualável precisão britânica do Guinness Book of Records. E lá estava: "Cerveja mais forte já vendida (Strongest beer ever sold)". No ano passado, a "cervejaria artesanal libertina" Brew Dog colocou no mercado a The End of History (O Fim da História). Se o nome já assusta, preste atenção no teor alcoólico: 55%.



Isso mesmo, você leu direitinho, mas vou colocar por extenso só pra não ter dúvidas: CINQUENTA E CINCO POR CENTO DE ÁLCOOL.

É mais do que a imensa maioria das cachaças e uísques que você conhece, certamente. Como a coisa chegou nesse nível de grosseria? Bom, como sou repórter, fui apurar.

A escalada no teor alcoólico veio num crescendo nestes anos 00, como se fosse uma disputa – e no fim das contas, foi mesmo. Em 2002, a cervejaria americana Samuel Adams começou com sua série Utopias (essa está na lista das 700 e vai doer no bolso um dia, a garrafa de 700 ml custa "míseros" US$ 250), estilo "vinho de cevada" (barley wine), com 24%, depois em 2007 subiu para 27%. Já deixou muita gente impressionada.

Em fevereiro de 2009, a alemã Schorschbräu não deixou por menos e criou a Schorschbock (tente pronunciar depois de ter bebido seis latinhas, pra você ver), e inclusive se vangloriou de ter superado o recorde anterior em 4%, chegando a 31% de álcool. Aí, em novembro do mesmo ano, a Brew Dog entrou na briga rasgando. Primeiro, com a Tactical Nuclear Penguin (é, eles são criativos nos nomes), de 32% de álcool. A Schorschbräu reagiu no mês seguinte, aumentando o volume alcoólico da Schorschbock para 40%.

Novamente, os escoceses superaram os alemães só por unzinho por cento, com a Sink the Bismarck, lançada em fevereiro de 2010 com um nome que ainda por cima sacaneia os concorrentes diretamente. Novamente, os alemães de Oberasbach resolveram mostrar que mandava e em abril de 2010 aumentaram novamente o ABV da sua cerveja, para 43%. Atualmente, ela é a mais forte no mercado, também de acordo com o Guiness Book of Records, com o título de "Cerveja mais forte disponível comercialmente (Strongest beer commercially available)".

Aí, em julho... a Brew Dog resolveu encerrar o assunto de verdade.

A The End of History, infelizmente, foi uma edição limitada do que os dois amigos escoceses de Fraserburgh que criaram a cervejaria, James Watt e Alan Martin Dickie, chamam de extreme ABV beers ("cervejas com ABV extremo", ou, vamos simplificar, "cervejas extremas"). Apesar do gosto pela competição, que ninguém pense que eles estão fazendo isso simplesmente para ficarem muito bêbados, como bons escoceses. Ou isso, ou eles se esforçaram bastante para arranjar algum argumento mais profundo pra vontade de biritar. Veja o que eles escreveram no blog da empresa:

O nome deriva do famoso trabalho do filósofo Francis Fukuyama . Ela é para a cerveja o que a democracia é para a história . Fukuyama definiu a história como a evolução do sistema político e traçou sua trajetória através dos tempos até que chegamos ao paradigma Democrático Ocidental . Para Fukuyama , este era o objetivo da evolução política do homem e consequentemente , o fim da história . Esta cerveja é a última cerveja de alto ABV que vamos produzir , o ponto final da nossa pesquisa em até que ponto podemos alargar as fronteiras da cervejaria extrema , o fim da cerveja.

Não bastasse isso, a embalagem é um show a parte. Isso é, se você for uma pessoa meio esquisita que curte animais empalhados "vestindo" a sua cerva. Sim, além do teor alcoólico, essa é outra parte chocante.


A parte mais chocante, talvez, seja o preço. A brincadeira saiu por 500 libras (!!!) para cada felizardo. Dá mais de uma libra por mililitro. Não quis nem converter o total em reais, pra não entrar em depressão. Na Beer Experience, vi uma long neck de Sink the Bismarck por R$ 400 (ui!) e quase enfartei. Também passei longe dos preços das outras...

O vídeo da apresentação do produto, pelo menos, é hilário. "O que você vai ver pode perturbá-lo. Se você se sentir levemente incomodado, nós... nós não damos a mínima", avisa o co-fundador James Watt. E conta, debochado que só, a briga contra os "comedores de salsicha" em busca da cerveja mais brutal de todos os tempos. Confiram:


The End of History from BrewDog on Vimeo.

Antes que eu me esqueça, o Brew Dog do nome da empresa é esse aí do lado, Bracken, labrador de três anos do pai de James. Segundo os dois malucos, ele acumula as funções de cão de guarda, provador-chefe, contador e camarada-em-geral, é amigável e gosta de biscoito.

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