sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Para conhecer melhor a morena
irlandesa mais amada do mundo


Escrever sobre Guinness não é falar apenas de uma cerveja. A bebida tradicional de Dublin, na Irlanda, virou grife. Por todo o país, lojas vendem uma infinidade de produtos, que vão de chaveiros a chinelos, roupas e bolas de futebol. A bebida mais vendida por lá é objeto de orgulho da população por sua trajetória histórica e importância econômica. Virou referência de moda, decoração e opção para souvenires entre os turistas. Ir a Dublin e não visitar a fábrica da Guinness é perder uma das principais atrações da cidade. Até para quem não gosta de cerveja!



Para quem já experimentou e curte o paladar tostado da Guinness Draught, a visita não paga os 12 euros de entrada. É preciso de duas a três horas para percorrer os sete andares do gigantesco galpão na Saint James' Gate Brewery - o tempo, claro, depende do interesse e curiosidade de cada um. Já a visita guiada é cativante. Mistura lições sobre a fabricação da cerveja, a história pessoal de Arthur Guinness e sua luta para licenciar a marca, em 1759. A cerveja é do tipo stout, de alta fermentação, feita com malte torrado e graduação alcoólica de 4,2%. É preciso se acostumar ao sabor forte e amargo. Os mais sensíveis dizem até sentir, no final do paladar, leve semelhança com o torrado do café, mas é apenas impressão.

Durante a caminhada, é possível conhecer as máquinas históricas usadas até hoje na produção, ver o processo de secagem e torrefação do malte e os tonéis de armazenamento, além do museu com uma coleção de latas, garrafas, rótulos e produtos criados desde a inauguração da fábrica. O auge, para os amantes da bebida de cor rubi-vermelho escuro (ela não é preta com se pensa), é o bar redondo localizado no terraço do prédio rodeado de vidros. O ponto mais alto de Dublin tem vista panorâmica de 360 graus, deslumbrando todos os que chegam.

Neste espaço, todos têm direito a degustações ao som do melhor das bandas irlandesas. Mesas espelhadas, pufes e sofás confortáveis, num clima descontraído. É o momento de dizer Cheers para Dublin, cheers para a cerveja, cheers para todos que ali estão dividindo a mesma experiência. Hora de saborear a espuma densa e cremosa que torna a Guinness mais robusta do que qualquer cerveja super-premium.

Na visita, o público também tem a oportunidade de aprender a maneira correta de servir a Guinness. Para o pint sair perfeito, há quesitos importantes antes de liberar o líquido do draft (chopeira). Quem consegue a proeza ganha até diploma.


Para servir com total mérito é preciso dar uma “viradinha” num ângulo de 45 graus no copo e enchê-lo apenas três quartos. Só então, depois de 1 minuto descansando, complete o copo até a boca. A Guinness tem um grande diferencial em relação às outras do mesmo estilo, que é uso do nitrogênio (N2), além do gás carbônico (CO2). A mistura na medida destes dois gases compacta e diminui as “bolhinhas” da cerveja, levando o gás totalmente para o colarinho. É dessa maneira que se obtém a espuma cremosa e branca que deve estar na altura certa (de 14 mm a 21 mm), ligeiramente elevada sobre a borda da linha do pint. A cerveja deve estar entre 4° C e 6° C.

(Ah! Só para esclarecer, um pint equivale a 568 ml no Reino Unido (e a 473 ml nos EUA). Alguns copos levam um selo da rainha da Irlanda, provando que comportam a quantidade exata.)

O que muitos não sabem - e que só aprendi ao trabalhar em um pub na Inglaterra - são os cuidados com a espuma na hora de servir. É ela que aponta a qualidade e sabor da cerveja. Apesar do líquido ser escuro, o “colarinho” deve ser totalmente branco e denso. Se estiver amarelado é sinal de que o barril passou da validade ou há sujeira no canal entre o tonel e a chopeira.

Durante muito tempo, a cerveja também foi associada à força e à virilidade - o que foi um marketing crucial para fortalecer a Guinness. Muitos em Londres, onde ela também é bastante consumida, chegam aos bares pedindo: “ One beer man, please !

A Guinness hoje é parte do portfólio da gigante multinacional de bebidas Diageo, no qual figuram também Harp Lager, Kilkenny, Smithwick's Ale, Tusker Lager, Red Stripe Lager, Satzenbrau, Senator Keg e Windhoek Lager. Suas vendas chegam a de 2,7 bilhões de litros por ano. Com pouco mais do que 250 anos de história, é produzida com a mesma composição: malte irlandês, água de Dublin, lúpulo e levedura.

É produzida localmente, de acordo com a nossa "querida" Wikipedia, em 55 países e comercializada num total de 155, possuindo 80% de participação no mercado mundial de cerveja preta. Ao redor do mundo, 170 mil pubs consomem 10 milhões de copos de Guinness diariamente. E outra: só para lembrar - o sabor marcante da Guinness é bem diferente do paladar a que o brasileiro está acostumado, mas é questão de tempo e costume para cair nas graças da morena mais famosa da Irlanda.

Nunca ter surgido a oportunidade de provar é uma coisa, mas certamente todo mundo já ouviu falar da Guinness. Isso é fruto das criativas campanhas de publicidade, que acumulam diversos prêmios nos festivais mundiais da área. Só para listar algumas peças estampadas com os slogans da marca vale citar alguns famosos: " Guinness is good for you ” - imortalizada por simpáticos tucanos; " Famous for its perfect head " , " There is nothing like a Guinness " , "My Goodness, My Guinness! " , Guinness That's the stuff !


Estão em louças, talheres, placas e quadros, que também estão em exibição durante a visita em vitrines espalhadas pelos pavimentos da fábrica. Alguns destes produtos podem ser adquiridos na loja local, que fica no primeiro andar. Vende camisetas, copos variados, abridores, imãs, bolsas, bonés, quadros e até bolas de baseball ganharam a marca licenciada do que Arthur, em 1759, pensava ser apenas uma cervejaria.


De acordo com a revista Super Interessante de agosto de 2011, que estive lendo, pesquisadores de quatro nacionalidades passaram um ano visitando bares de 14 países em busca de pessoas que estivessem bebendo a cerveja irlandesa. Após 103 degustações e entrevistas feitas em cerca de 70 bares, a constatação: ela realmente parece mais gostosa na Irlanda, onde recebeu nota média de 7,4 (contra 5,7 nos demais países).

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, experimentou a Guinness quando fez sua primeira visita à Irlanda e concordou. Mas, sinceramente, os fiéis apreciadores de Guinness não se importam com o local ou versão barril, lata e long neck. Claro que beber uma Guinness, especialmente em Dublin, ou em algum lugar do Reino Unido tem seu charme, e a principal vantagem é que se paga quatro vezes menos do que quando se opta por uma destas no Brasil. Portanto, a dica é arrumar as malas para as próximas férias em terras européias.



Elaine Dias é jornalista, curiosa, não aprecia Guinness, mas por ter morado em Londres e trabalhado em um pub por um ano, aprendeu a fazer o famoso trevo verde com a própria espuma ao servir uma Guinness ao cliente. O símbolo da Irlanda é costume ser desenhado no “colarinho” do chope. Mais um ponto inusitado que não se encontra em qualquer lugar por aí.

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