quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Colorado brasileira rumo aos EUA - Matéria no Jornal O Globo, 27/5/12

Cervejaria artesanal começa a exportar e busca fusão para dobrar produção

Marcio Beck
(marcio.beck@oglobo.com.br)

Decidido a diversificar os negócios da família, então concentrados em exploração de petróleo, e depois de enveredar pela edição de livros e pela indústria farmacêutica, Marcelo Carneiro abriu um bar em Ribeirão Preto, em São Paulo, sua cidade natal, em 1995. Não um bar qualquer, mas um inspirado nos moldes dos brewpubs americanos, com fabricação própria de cerveja. As duas irmãs, que eram suas sócias, logo deixaram que tocasse o investimento de US$ 600 mil sozinho. Dezessete anos depois, a cervejaria, batizada Colorado, tornou-se o negócio principal dele, com o bar Cervejarium servindo de vitrine para os lançamentos, cada um trazendo, obrigatoriamente, pelo menos um ingrediente tipicamente brasileiro.

Até o fim do ano, a Colorado será a segunda cervejaria artesanal brasileira a entrar pela porta da frente no mercado americano. A primeira foi a Eisenbahn, comprada em 2008 pela Schincariol, que chegou aos EUA em 2005, por meio da importadora Shelton Brothers. Além disso, ele tem planos de dobrar a produção atual de 100 mil litros — uma gota no oceano de cerca de 1 bilhão de litros consumidos por mês no Brasil, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Mas não deve manter o rótulo de “artesanal” por muito tempo. O dono da Colorado revela que busca uma “parceria com alguma grande cervejaria” para conseguir aumentar a produção e sofrer menos os efeitos da carga tributária.

— Não vou vender. O que deve acontecer, até o fim do ano, é uma fusão com uma cervejaria maior, que possa nos dar ganho de escala. É uma necessidade de mercado, mas também uma forma de escapar do garrote dos impostos — diz Carneiro.

Segundo ele, o sistema tributário brasileiro é “desenhado para favorecer a grande indústria”. Os impostos, afirma Carneiro, representam cerca de 50% do preço do produto, e são cobrados de forma injusta.

— Vendo a minha cerveja a R$ 7, o restaurante vende a R$ 24, e o imposto é cobrado sobre esses R$ 24.

Ribeirão Preto cria polo de cervejarias

Produtores querem convencer governo a apoiar o setor

Em abril, a Colorado participou da criação do polo cervejeiro de Ribeirão Preto, que reúne oito fabricantes artesanais e pretende agregar outros segmentos, como o de fabricantes de chopeiras, garrafas e barris.

— Estamos nos articulando para ir ao governo e mostrar que existe toda uma cadeia produtiva que precisa ser incentivada — afirma Marcelo Carneiro.

O movimento em direção aos EUA é uma tentativa de escapar da difícil realidade nacional, mas ainda com resultados incertos. A primeira carga, de 20 mil litros, será recebida pela Artisanal Imports, importadora especializada em cervejas belgas e alemãs sediada... no estado americano do Colorado. Coincidência?

— Foi por acaso, mas, por isso, teremos que destacar menos nossa marca e realçar os nomes brasileiros das cervejas, para que ninguém pense que somos uma cervejaria de lá. Os rótulos originais estão sendo redesenhados — explica Carneiro.



(Publicado originalmente na edição impressa do jornal O Globo)

2 comentários:

  1. Meu medo é que quando a colorado perder o rótulo de cerveja artesanal, sua qualidade baixe.
    É uma ótima cerveja.
    www.mesadebar-im.blogspot.com.br

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  2. Compartilhamos com você esse receio, Ivo.

    Seja por fusão, aquisição ou que for, a absorção de cervejarias artesanais pelas industriais, no Brasil, tem sido acompanhada de mudanças nas características dos produtos - que para muitos, inclusive nós, não implicaram em melhoras.

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