quarta-feira, 10 de abril de 2013

Festival Brasileiro da Cerveja - Como foi o debate dos blogueiros com os cervejeiros

Alejandro Winocur, Iron Mendes, eu, Leonardo Sewald e Rafa Moschetta. Foto: Nicholas Bittencourt/Goronah

Este que vos escreve teve a honra e a responsabilidade de mediar, no Festival Brasileiro da Cerveja, o debate reunindo os Blogueiros Brasileiros de Cerveja (BBC) - grupo de 43 profissionais de diversas áreas que atuam em mídias sociais especializadas em cerveja - e representantes de três cervejarias e de um importador. Os convidados foram Rafa Moschetta (Colorado), Leonardo Sewald (Seasons), Alejandro Winocur (Way) e Iron Mendes (Beer Maniacs), que interromperam as atividades nos respectivos estandes para estar conosco conversando sobre o relacionamento entre os blogueiros e os players do mercado.

As questões que lhes apresentei foram discutidas pelo grupo em nosso fórum ao longo de meses. Primeiro, pedi de cada um deles uma visão geral de sua atuação em mídias sociais e de contato com os blogueiros.



Rafa Moschetta lembrou que sua posição na Colorado, onde conta com auxiliares, é uma exceção no panorama das artesanais brasileiras. A maioria tem poucos recursos para comunicação e marketing. Para ele, a relação com as mídias sociais pode ser melhor aproveitada. Leonardo Sewald complementou que os blogueiros são importantes como canais de comunicação com o público, mas destacou que há "muitas discussões e brigas que precisam ser eliminadas".

Iron Mendes argumentou que os Beer Maniacs são pequenos e não tem "grandes planos de mídia". Disse que tem equipe para criar as peças sobre as cervejas, e que seu pessoal está sempre "lendo e tuitando".

Já Alejandro Winocur explicou que a Way teve um caso de má comunicação com os blogs em seu primeiro ano, 2010, e que os blogueiros tem "muita sede de informação e novidades". Por isso, buscaram encontrar um mecanismo para "fazer a coisa mais democraticamente". A cervejaria tem uma assessoria de imprensa contratada especificamente para cuidar de seus lançamentos, divulgando-os em releases em seu blog oficial.

Aproveitando a deixa da fala do Sewald, levantei a questão das discussões e brigas. De onde partem, quais seus motivos?

As respostas foram quase unânimes. Moschetta brincou, dizendo que o mercado brasileiro é adolescente, por isso tem algumas chatices e birras. Mas destacou a necessidade de os blogueiros terem consciência de sua responsabilidade ao divulgar informações e opiniões.

- Cabeça fria na hora de postar - pediu, após defender que há mal-entendidos que poderiam ser resolvidos com um contato mais pessoal (ainda que virtual).

O cervejeiro da Seasons reclamou que nas mídias sociais, as informações às vezes "saem de forma errada" e que há comparação com mercados mais avançados:

- É uma comparação até saudável, porque ajuda a aprender, mas tem que ser com os pés no chão.

Iron Mendes lembrou a genial frase do confrade Maurício Beltramelli, embaixador dos BBC e um dos criadores do portal Brejas: "Se beber, não tuíte". Segundo ele, as polêmicas são isoladas, mas os blogueiros estão sendo lidos por milhares de pessoas, e devem pensar bem nisso.

Alejandro Winocur foi mais específico. Disse que a cervejaria da qual é sócio surgiu em meio a uma onda de formação de turmas de beer sommeliers, que "achavam muito DMS ou muito diacetil em tudo".
- Os beer sommeliers e os blogueiros têm uma força enorme. Podem fazer com que uma cerveja vá muito bem ou destruí-la completamente. O principal papel dos especialistas deve ser o de educar - afirmou.

Fabian Ponzi, autor do Bebendo Bem e responsável pela presença em mídias sociais do clube de cervejas Have a Nice Beer, pediu a palavra e lembrou que, apesar de os blogueiros assumirem responsabilidades ao publicar, ainda são consumidores:

- Como consumidor, eu tenho direito a opinião, todos temos. Não estamos aqui para fazer nada chapa-branca.

Voltando ao que Moschetta afirmou sobre contato pessoal, ponderei que muitas tentativas de contato com responsáveis por cervejarias ficam sem resposta. E, também, que muitas cervejarias não adotam práticas por assim dizer democráticas de divulgação de suas novidades, privilegiando alguns blogueiros em detrimento de outros.

O responsável pela comunicação da Colorado disse que a empresa procura apresentar suas novidades por meio de releases. Para Leonardo Sewald, a questão do acesso precisa ser corrigida; novamente, ele culpou a falta de recursos humanos para lidar com o atendimento das demandas. 

Iron Mendes não usou de meias palavras:

 - Democracia é muito legal, mas às vezes ela não funciona. Às vezes, também é preciso segurar uma determinada informação, para que a concorrência não fique sabendo dela antes do tempo. É bonito falar, mas também tem o mérito de cada um investigação do blogueiro.

Fui obrigado a intervir. Na análise pseudo-comunicacional, o sócio da Beer Maniacs cometeu o erro gravíssimo de equiparar informações positivas alimentadas por empresass a blogueiros selecionados à prática de algum tipo de investigação. Ocorre que as informações realmente valiosas, como qualquer estudante de jornalismo aprende ainda na faculdade, são aquelas que ninguém quer passar - essas sim, fruto de investigação.

Na sequência, questionei se não haveria uma preocupação exagerada com a questão mencionada por ele, de segredo concorrencial, para barrar a transmissão de informações para as mídias sociais.

Rafa Moschetta explicou que a prática de segurar informações é usada tanto em casos nos quais possa ajudar a aumentar o "boom" quanto naqueles em que ainda não se tem certeza de que a informação vai se confirmar. Mendes reconheceu que as empresas "podem exercitar um pouco mais de desapego" em relação às informações:

- Às vezes tem que ser um pouco mais relax.

Segundo Winocur, a Way não tem segredos quanto a receitas, trocam informações sobre insumos com supostos concorrentes, "como faz qualquer cervejaria dos EUA". Mas que, quando há um "momento mais comercial", pode entrar em vigor a mesma lei do silêncio.

A transparência era o tema próximo mais óbvio da discussão que estava se desenrolando, portanto, só me restava abordá-lo.

Referindo-se às constantes reclamações dos artesanais de que blogueiros transmitem informações incompletas ou incorretas, o representante da Colorado disse que "não se pode cobrar de alguém que passe adiante informações que não possui".

- Concordo que, nesse ponto, falhamos. Precisamos melhorar.

Leonardo Sewald afirmou que existe uma "lacuna a ser preenchida" em termos de informações, mas que os cervejeiros querem aproveitar os espaços para mostrar mais a realidade do negócio.

Iron Mendes, mais uma vez, finalizou com sinceridade acachapante, e muito bem-vinda:

 - Depende do nível de transparência que se está falando. Ninguém vai publicar balancete, listar todas as margens... Já tivemos três reduções de preço, e procuramos acompanhar as flutuações do câmbio. Quando a libra caiu, nós abaixamos o preço das cervejas da Meantime e Hook. Acho que somos abertos e tentamos trazer as cervejas por um preço justo que nos remunere. Não é filantropia.

Observação que não fiz no debate, porque não cabia: eu nunca achei que fosse filantropia. E canso de repetir isso em diversos fóruns de debates cervejeiros. Se todos aqueles que estão se aventurando no mercado cervejeiro pudessem simplesmente admitir que estão perseguindo lucros e um meio de vida, muitos dos atritos seriam eliminados.

Alejandro Winocur defendeu que "quem regula o preço é o mercado":

- No fim das contas, vai bater na questão subjetiva: o quanto você quer pagar pela cerveja. Se você quer vender cerveja mais cara, vai vender menos.

A meu ver, é verdade... em parte. Não só a demanda mas a oferta tem desempenhado um papel importantíssimo na definição de preços no país e na competitividade das artesanais brasileiras. 

Concluindo, Mendes nos cobrou, justamente, a presença de representantes do varejo do setor, ou seja, os donos de bares e lojas.

 - A gente vê variações muito grandes de preços na mesma cerveja, na mesma cidade. Um bar cobra R$ 10 e outro cobra R$ 18.

 Bem... No próximo, já sabemos que precisaremos reunir a cadeia toda, desde o comércio de insumos ao ponto de venda.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo belo resumo Marcio.
    Infelizmente não pude estar presente, mas com esse relato estou bem informado sobre o que foi discutido.
    Obrigado.
    Monich

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  2. Valeu, grande Monich !

    Na próxima, espero, teremos um taquígrafo e também registraremos o evento em vídeo do começo ao fim ... espero. =D

    De qualquer forma, o relato foi bem detalhado com base nas anotações frenéticas que fiz entre uma questão e outra.

    abração !

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  3. Parabéns, Marcio.

    Espero estar presente nos próximos. É interessante reforçar o Direito a ter opinião e a postar informações apuradas mesmo que estas não sejam completadas (mas as únicas disponíveis).

    Um grande abraço,

    Gabriel Lucas
    http://factoide.com.br

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  4. Valeu, Gabriel !

    O debate foi muito produtivo, sob vários aspectos. Continuaremos defendendo, é claro, esse direito à expressão, e incentivando tanto os nossos associados ao BBC quanto os demais blogueiros a serem responsáveis em suas postagens, sem perder o espírito crítico.

    Apareça no próximo !

    abraço

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  5. Alejandro Winocur defendeu que "quem regula o preço é o mercado":

    - No fim das contas, vai bater na questão subjetiva: o quanto você quer pagar pela cerveja. Se você quer vender cerveja mais cara, vai vender menos.

    Em todos os países do Mundo isso funciona, menos no Brasil. Brasileiro se submete a tudo, até ficar endividado para adquirir aquilo que quer. Infelizmente, os comerciantes, pelo menos a maioria, já percebeu isso e se aproveita da situação. Logo, quem controla o preço no Brasil, não é o mercado é o quanto de lucro que o vendedor quer ter!

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