quinta-feira, 25 de agosto de 2011

1ª Beer Experience, parte 1 – A 'breja' do Velhas Virgens!


Eles estão completando 25 anos de muito rock, blues e elevadas doses de birita e sacanagem. Agora, com uma marra que é para poucos, a banda paulista Velhas Virgens tem a própria cerveja, a Indie Rockin' Beer India Pale Ale, lançada durante a 1ª Beer Experience, em São Paulo. A cerveja ainda tem bastante a evoluir em sabor, mas já deixou bastante gente calibrada por lá.

Entre um copo e outro (no estande da banda, sempre lotado de fãs e curiosos, o de 330 ml saía por R$ 7), conversei com o vocalista e metralhadora giratória oficial da banda, Paulo Afonso de Carvalho, o Paulão, e com o mestre cervejeiro Reynaldo Fogagnoli, responsável pela alquimia de transformar a rebeldia da banda em uma receita palatável.

Eis o resultado:



BATE-PAPO // PAULÃO

700Cervejas: Então, vocês estão lançando a cerveja de vocês aqui na Beer Experience, que nós estamos aqui bebendo...

Paulão: É uma grande cerveja, a Indie Rockin' Beer, que faz referência às cervejas india pale ale, as IPA. Quem não souber o que é procura depois na wikipedia pra ver. Mas na verdade, neste exato momento eu não tô bebendo a minha própria cerveja!

Pô, me enganou! Qual é?

Neste exato momento, eu tô bebendo a melhor cerveja do mundo, que é a Brew Dog Punk IPA.

Como e quando vocês começaram com a ideia de fazer a própria cerveja?

A gente bebe cerveja, gosta de festa, e precisava representar isso com a nossa própria cerveja. Foi há muito anos, antes de existir essa onda das cervejas especiais e importadas. O povo brasileiro não sabe, porque só consome esse lixo de Brahma, Skol, essa merda que representa só um tipo de cerveja, mas existem 300 tipos de cerveja no mundo. Então, o que a gente está apoiando hoje é a diversidade. A nossa luta contra as grandes gravadoras não é menor que a destas cervejarias contra as gigantes como a Ambev. Não há diferença nenhuma entre o mundo do rock n'roll e o da cerveja. Existem os donos do mercado, e existe quem quer entrar. Os donos do mercado oferecem lixo, e nós oferecemos, aparentemente, por não ter alternativa, qualidade. Yo soy rock and roll, bicho, yo soy independiente.

Essa é a característica principal da banda na cerveja?

Essa coisa de ser uma IPA, uma india pale ale... é se meter numa confusão histórica, que até já foi resolvida, da independência da Índia... mas ainda hoje estamos discutindo essa história de ser dono do próprio nariz. Por isso, a nossa cerveja é indie, e acho que alguém já devia ter sacado isso. Se o Kurt Cobain não tivesse estourado a cabeça, talvez lançasse uma cerveja chamada Indie, ou Grunge. A nossa cerveja é indie, porque a gente quer propor que as pessoas não bebam o óbvio. Nós vamos fazer uns filmetes aí sobre ela que vão colocar até tênis do John Lennon na parada (risos). Vocês vão ver...


BATE-PAPO // REYNALDO FOGAGNOLI

700Cervejas: Como vocês se conheceram e quando começou o processo de criação da cerveja das Velhas Virgens?

Reynaldo Fogagnoli: Nossa, cara, essa pergunta é dinossáurica (risos). Quando nos conhecemos, já faz uns dez, 12 anos, eu trabalhava na cervejaria Continental, e tava rolando uma matéria das Velhas lá. Ficamos amigos, porque tinha uma coisa em comum, eles gostavam de cerveja, e eu gostava de rock. E já aí a gente pensou, "pô, um dia a gente pode fazer uma cerveja da banda". Mas isso aqueles puta papo de boteco louco pra cacete, que ninguém sabe se vai virar realidade ou não. Banda é uma coisa que você começa hoje, termina amanhã, mas aí você vê os meninos com 25 anos de banda, eu continuo fazendo cerveja... e essa ideia nunca morreu. No ano passado, o Paulão me procurou e falou, "Rê, a banda vai completar 25 anos, tá na hora de fazer a cerveja", e eu falei "Tá bom, então, vamos começar a trabalhar nela, pra lançar na época que vocês quiserem", e foi assim que começou. A gente se fala muito fácil, as ideias fluem bem, tanto em relação ao tipo de cerveja quanto ao conceito que a gente quer vender pra galera.

O que vocês conversaram que seria importante ter como a personalidade desta cerveja?

Aí você falou tudo, cerveja acima de qualquer coisa tem personalidade. A banda deles, se você for ver... porra, não é nada fácil. Uma banda que nunca pagou jabá, que nunca estourou na mídia, mas que se perpetua até hoje, que tem o público dela... A cerveja tinha que ter essa cara. Eles nunca abriram mão do rock n' roll, da sacanagem, nunca produziram um produto de massa pra ser vendido, nunca fizeram um disco pensando em tocar na rádio. E a cerveja vai ser exatamente isso, vai ser original, puro malte, sempre dentro das especificações do estilo. Se a gente fizer uma pilsner, vai ter amargor, espuma e aroma de pilsner. Tem muito "acervejado", por aí, como a gente fala, como tem apresuntado. Não é presunto, mas serve para tacar no pão. Assim como a banda, a cerveja vai ser agressiva. Perto das que você tem de parâmetro hoje, que são as cervejas comerciais feitas pelas grande cervejarias, vai ser radical. É o mesmo que você comparar as Velhas com as bandinhas de rock que vão tocar na novela. A nossa banda não toca na novela. Você gosta de rock? Tua banda é essa. Você gosta de cerveja? Tua cerveja é essa. É assim.

Vocês estão pensando então em produzir diversos tipos.

Com certeza. Esse aqui é o carro-chefe, a cerveja do lançamento, que é a cara da banda, mas depois a gente vai lançar outras. Os rótulos estão quase prontos. Essa aqui é mais do que uma pale ale, é quase chegando numa bitter ale, mas estou tomando cuidado com o amargor. Porque, para o brasileiro, o amargor é algo que traz muita rejeição entre os brasileiros. Na minha visão de cervejeiro, é algo que tinha que ser bem mais elevado, mas a gente tem que saber dosar a mão pra nào estragar o negócio.

Essa aqui dá pra perceber que ainda está começando a ser desenvolvida...

Essa cerveja que você está bebendo hoje, como é que vou dizer... é um projeto. Temos que ter cuidado também para não fazer uma cerveja extremamente radical, que não tenha consumidor, aí não vale nada pra ninguém. Eu, o cervejeiro, preciso passar uma linguagem para eles, a banda. Essa cerveja é aquela "quase-lá". Estou fazendo produções gradativas ascendentes, escutando as pessoas... inclusive hoje aqui está sendo um laboratório fantástico. Esperamos que elas nos ajudem a chegar em um produto que realmente tenha sua cara, seja único, bem bacana e obviamente, não tenha uma grande rejeiçào.
Fermentado por Em Do que se trata , , , , , ,

Um comentário:

  1. Daniel Conde Perez25 de agosto de 2011 às 08:23

    Essa entrevista foi foda. O Paulao é mo figurassa...
    Talvez se nao fosse a banda que sao, independente e tal, nao teriamos tanto acesso assim. E é isso que torna tudo mais divertido, para os dois lados.
    A cerveja é boa, a proposta que eles trazem tambem, mas ainda ta faltando aquele toque especial...espero que o festival tenha ajudado o Reynaldo a pensar nisso.
    O lance do "acervejado" foi demais... haahahaha

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