Beba menos. Beba melhor. Beba diferente!
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Para pais cervejeiros
Lembro nitidamente do primeiro golinho de cerveja - na verdade, uma bicada na espuma - do copo do meu pai, aos 6 anos. Tinha cor parecida com a de guaraná, por isso fui empolgado, achando que ia ser docinho... e devo ter feito uma careta daquelas. Felizmente, não existem registros fotográficos do momento, e lembro até que a senhora minha mãe, dona Denise, ficou um pouco escandalizada. Mas meu pai, apesar de tudo, era no fundo do coração um capiau criado na fazenda do avô, e dar gole de cerveja ou vinho pra garotada era a coisa mais normal naquelas terras.
O tempo passou e eu, já adolescente, comecei a assaltar o bar de seu Zairk (não é erro de digitação, era o nome dele mesmo), que guardava ainda umas relíquias da época em que ele trabalhava em companhia aérea e além de viajar por aí, recebia presentes dos amigos que viajavam. Uísque escocês, tequila mexicana, vodka polonesa... Demorei pra sacar que destilados não eram a minha praia.
Meu pai, enquanto isso, os ignorava olimpicamente, mas não abria mão de uma lata de cerveja nos fins de semana. Continuou assim até os 95 anos - aí já com a cerveja sem álcool. Exceto por uma vezinha que eu coloquei meio copo de uma Duvel pra ele, sem ninguém saber. Pois é, e agora está chegando meu segundo dia dos pais sem o véio, que se foi em março do ano passado. A saudade é grande.
Os leitores hão de desculpar os três parágrafos de reminiscências embromativas, mas não teria como fazer um post em homenagem à data que se aproxima sem contar isso. Ocorre que com a onda das cervejas especiais - ou gourmet, como chamam aqui -, os filhos de pais cervejeiros têm uma opção a mais de presente. É aqui que o assunto volta aos trilhos, ou melhor, aos copos.
A digressão toda começou quando recebi um email da assessoria da importadora Boxer do Brasil, que colocou no mercado por cerca de R$ 95 um kit com garrafas da Fuller's Vintage Ale safras de 2009 e 2010. São biéres de garde, cervejas de guarda, que envelhecem na garrafa, assim como os vinhos. Cada garrafa, todas elas numeradas, vem num estojo especial. Quem quiser, pode procurar no Empório Massaya, Empório Frei Caneca, Empórium Dinis, Empório Panamby e Empório Sagarana e na própria importadora. Desculpem não colocar os links, mas já tô fazendo muita propaganda de graça.
As Fuller's Vintage Ale, pela apetitosa descrição do release, são assim:
A safra de 2009 possui cor rubi, espuma duradoura, que sempre permanece um pouco sobre o líquido. No aroma revelam-se frutas escuras (ameixa, uva passa), notas de torrefação, caramelo, chocolate e nuances de álcool. No paladar sente-se um bom corpo e leve sensação quente vinda do álcool. Possui carbonatação média e apesar de sua perceptível doçura, traz ao final uma agradável sensação de amargor.
A safra de 2010 é feita com os melhores maltes e lúpulos obtidos no ano, deixando-a sempre com um sabor diferente e único. Esta edição apresenta notas frutadas, lembrando peras e laranjas, e também notas florais. No paladar ela é licorosa, com notas de malte carameladas e balanceado amargor do lúpulo.
O sabor surpreende com um mescla de frutas, doces e amargor do lúpulo, que mantém seu caráter de malte, deixando no paladar um sabor agridoce, levemente fumado e cítrico em 8,5% de teor alcoólico. Sua cor rubi e marrom escuro com espuma duradoura, que permanece sobre a bebida deixa a Vintage Ale ainda mais irresistível. Pode ser guardada por até 6 anos.
A Fuller's - oficialmente, Fuller, Smith & Turner P.L.C. - é a última dos moicanos dos family brewers de Londres, mas nem por isso é uma empresa pequena. Nos padrões brasileiros, seria uma média-grande (faturamento > R$ 90 milhões e < que R$ 300 milhões). Produz cerca de 30 mil barris por ano e opera 360 pubs e seis hoteis. Segundo o balanço mais recente da empresa, aliás, a maior parte do lucro dos últimos 12 meses (46,6 milhões de libras, ou uns R$ 95 milhões, alta de de 7% contra igual período anterior) sequer veio da cervejaria (11,2 milhões de libras, ou R$ 27 milhões, alta de 2% na mesma comparação), mas dos pubs e hotéis (26,6 milhões de libras, ou R$ 55 milhões, alta de 12% na mesma comparação).
A empresa tem ações na bolsa de Londres (London Stock Exchange) e paga dividendos - se houve - duas vezes por ano, em janeiro e julho. Desde 2007, ela é presidida por um descendente de um dos fundadores, ex-diretor da divisão de Vinhos, o contador Michael Turner, de 60 anos. Dois integrantes de outra família de fundadores ocupam cargos na diretoria: Richard Fuller e sir James Fuller.
Em termos de responsabilidade com os clientes, parecem em dia com as tendências mundiais. No Natal do ano passado, a empresa anunciou um "recall limitado" de garrafas de 330 ml de suas marcas - Golden Pride, Organic Honey Dew, London Pride, ESB e London Porter - afetadas pelo que eles chamaram de "um caso isolado no nosso fabricante de garrafas que poderia resultar em pequenos fragmentos de vidro aparecendo na garrafa".
A cervejaria, afinal, tem um nome importante a zelar. Ela é "pentacampeã" da Campaign dor Real Ale Champion Beer of Britain, com três cervejas diferentes, feito inédito no prêmio - London Pride, ESB e Chiswick Bitter.
Dando aquela valorizada básica, o site diz que sua origem pode ser traçada "há mais de 350 anos, desde a era de Oliver Cromwell". Fundada mesmo, foi em 1845, às margens do Rio Tâmisa, pelos sócios John Bird Fuller, Henry Smith e John Turner, após uma tentativa frustrada do pai de Fuller, John, de financiar o negócio iniciado nos primeiros anos do século 19. A história completa está no livro London Pride, que comemora o sesquicentenário (150 anos, pra quem não associou o nome à efeméride) e pode ser comprado baratinho na gift shop do site deles, por 7 libras (R$ 18).
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As Ales inglesas são o máximo. Já provei a London Pride e a Porter, são realmente muito boas! Está de parabéns pelo blog!
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